Espanha aguarda com preocupação a sentença que será aplicada a cinco homens acusados do crime de violação de uma jovem de 18 anos, depois das opções polémicas tomadas pelo juiz durante o julgamento.
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O caso motivou manifestações, críticas públicas e alarme social. Em causa está o facto de um juiz do Tribunal Superior de Navarra ter permitido que dados recolhidos por um detetive privado - contratado pelo advogado de um dos arguidos - sobre o estilo de vida da vítima pudessem ser analisados como prova, mas, ao mesmo tempo, ter negado idêntico estatuto a mensagens trocadas entre os suspeitos antes e depois de, alegadamente, terem cometido o crime.
O crime, uma violação em grupo, ocorreu na madrugada de 7 de julho do ano passado, durante as festas de San Fermin, em Pamplona. Segundo a investigação, os cinco homens, vindos de Sevilha, todos com idades na casa dos 20 anos, encurralaram a jovem numa área recôndita de um prédio, despiram-na, e violaram-na. Todos se declaram inocentes. Todos asseguram que as relações sexuais foram consentidas.
As defesas dos arguidos sustentam parte da sua estratégia num juízo de opinião sobre a vida da vítima, baseado em imagens e outras publicações feitas nas redes sociais, matéria que o magistrado aceitou que fosse considerada prova.
Já as mensagens trocadas pelos acusados num grupo do WhatsApp chamado "La Manada", antes e depois do crime, foram desconsideradas. Nessas conversas, os suspeitos mencionavam a necessidade de viajarem de Sevilha para Pamplona munidos de "drogas de violação e cordas": "Porque assim que lá chegarmos vamos querer violar tudo o que virmos".
E podia ler-se o seguinte diálogo:
"- Bom dia
- A fo*** uma entre os 5
- Ahahah
- Tudo o que te possa contar é pouco
- Que loucura de viagem
- Há vídeo."
Várias imagens do referido vídeo foram visionadas durante o julgamento. Também imagens de uma câmara de videovigilância permitiram identificar e deter os suspeitos. Entre eles há um militar e um guarda civil.
Na estratégia das defesas estão ainda várias contradições encontradas no testemunho da vítima e o facto de, alegadamente, ela nunca ter dito claramente que não. Segundo a versão da jovem, ao ver-se rodeada pelos cinco homens, percebeu que não teria hipótese de fuga e fechou os olhos "para que aquilo acabasse o mais rapidamente possível".
Passado cerca de um ano e meio sobre os factos, a vítima, natural de Madrid, ainda necessita de apoio psicológico. Sofre de depressão e ansiedade, comprovam os relatórios médicos apresentados em tribunal.
No caso de serem considerados culpados, os arguidos arriscam uma pena de prisão até 25 anos.