O lado mau do chá embalado: saquinhos de nylon libertam milhões de microplásticos
Um estudo científico publicado na semana passada revela que há enormes quantidades de microplásticos nos saquinhos de chá feitos de nylon. As consequências desses fragmentos para a saúde humana ainda estão em estudo mas já se anunciam nocivas.
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Parecem inofensivos mas talvez não sejam assim tanto. Segundo um novo estudo da Universidade de McGill, em Montreal (Canadá), publicado na revista científica "ACS Publications", os saquinhos de chá feitos à base de nylon (fibra sintética) deixam nas chávenas (e em toda a parafernália existente de recipientes) uma grande quantidade de microplásticos.
Microplásticos são pequenos detritos de plástico (com menos de cinco milímetros) presentes no ambiente
A equipa dos investigadores responsáveis pelo estudo descobriu que embeber apenas um saquinho de chá quase à temperatura de fervura (95 graus) liberta aproximadamente 11,6 mil milhões de microplásticos e 3,1 mil milhões de nanoplásticos de nylon e politereftalato de etileno (PET). Estes últimos são 150 vezes menores que um fio de cabelo, possivelmente pequenos o suficiente para penetrarem em células humanas, escreve o "The Guardian".
Quando os especialistas experimentaram alimentar os plásticos com "pulgas de água" ou dáfnias (crustáceos microscópicos), as criaturas tornaram-se agitadas e "nadaram loucamente", disse à BBC Nathalie Tufenkji, co-autora do estudo e professora de Engenharia Química. Segundo a investigadora, que começou a estudar os saquinhos de chá depois de lhe ter sido servido um num café, a exposição aos micro e nanoplásticos coloca as "pulgas de água" em stresse, tornando os seus exoesqueletos artificialmente "inchados", efeito que considera preocupante.
Estudo sugere que consumo de plástico é maior
De acordo com o estudo, a quantidade de plástico encontrada nos saquinhos em causa é maior do que aquela que ingerimos a partir de praticamente qualquer outro produto: um litro de água de uma garrafa de plástico descartável contém 44 partículas microplásticas; uma porção de mexilhões contém cerca de 90; e um quilograma de sal mais de 600.
Um estudo anterior constatou que cada pessoa consome, em média anual, 70 mil partículas de plástico, só a partir da poeira que se deposita nos nossos alimentos. Este ano, o Fundo Mundial para a Natureza estimou que cada pessoa ingere cerca de cinco gramas de plástico por semana (equivalente a um cartão de crédito). Contas feitas, são mais de 260 gramas, por ano.
Mas estudos como o de McGill sugerem que essas avaliações são conservadoras e que o consumo de plástico é maior, uma vez que só uma pequena fatia de alimentos comuns - representativa de apenas 15% das calorias consumidas - foi analisada quanto à presença de microplásticos.