A Ahmadi Religion of Peace and Light (AROPL) opera num antigo orfanato em Cheshire, no Reino Unido. Foi fundada por Abdullah Hashem, que se autoproclama “salvador da humanidade” e utiliza as redes sociais para recrutar jovens em todo o Mundo. Os seguidores dizem que "faz a lua desaparecer" e doam-lhe os seus salários.
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A AROPL é uma mistura da teologia islâmica com teorias da conspiração sobre os Illuminati e extraterrestres que controlam secretamente os presidentes dos EUA. Afirma-se como um movimento religioso pacífico, aberto e transparente, derivado do Islão xiita. De acordo com o jornal britânico "The Guardian", Abdullah Hashem incita os seguidores a venderem os seus bens e a doarem os salários à seita.
O grupo religioso recruta jovens através de plataformas como o YouTube e o TikTok. Nos vídeos divulgados pela AROPL pode ser vista, por exemplo, uma menina a garantir que ficou curada de dores de barriga quando Hashem lhe tocou. Noutro, vê-se um grupo de homens, muitos deles com gorros pretos, a declarar que são “soldados” de Hashem e que vão lutar e morrer por ele. Também aparece um rapaz que diz ter 16 anos a descrevrer Hashem como o seu "pai, imã, Deus".
O jornal britânico revela que há cerca de 100 seguidores a morar na sede do grupo, incluindo famílias com crianças que são educadas no local. Segundo o relato de um repórter que visitou as instalações, foram vistas crianças a brincar no exterior e adultos com gorros pretos a almoçar e a passear cães de guarda.
Antigos membros do grupo entrevistados pelo "The Guardian" mostraram-se preocupados com o bem-estar e a educação das crianças dentro da seita. Os serviços sociais de Cheshire já realizaram dois inquéritos, mas não há provas de que tenha sido necessária qualquer ação.
Líder desmascarava cultos nos EUA
O líder religioso declara-se Mahdi, que representa o salvador do dia do juízo final na profecia islâmica. Também afirma ser o legítimo Papa, bem como o sucessor do profeta Maomé e de Jesus.
Hashem declara que os seguidores têm o "dever" de doar todo o seu salário - mantendo apenas dinheiro para o sustento básico - e vender as suas casas ou terrenos para financiar a sua missão de criar um Estado "divino".
Antigos membros contaram que foram pressionados a cortar ligações com pessoas que não fizessem parte da seita e que foram convencidos a vender propriedades que tinham para financiar a causa. Uma mulher admite que doou ao grupo todo o dinheiro que tinha recebido para o seu casamento e um outro homem revela que doou quase 40 mil euros.
Abdullah Hashem é egípcio-americano e cresceu em Indiana, nos EUA. Foi realizador de documentários e ficou conhecido por se infiltrar e desmascarar cultos. Chegou a ser processado por um filme que realizou na Suíça, com um colega, sobre uma religião OVNI. "Estamos a construir a nossa reputação de desmascarar o falso profeta, o fenómeno OVNI", garantiu Hashem, na altura, aos jornalistas. Sete anos mais tarde, fundou a AROPL.
A seita surgiu, inicialmente, no Egito e na Alemanha, tendo-se depois deslocado para a Suécia. No entanto, 69 membros viram as suas autorizações de residência revogadas, após a Agência Sueca de Migração ter descoberto que empresas ligadas à instituição forneciam vistos fictícios.
Em 2022, um tribunal de imigração confirmou as conclusões da agência e ordenou a deportação de dezenas de membros do grupo, embora a maioria já se tivesse mudado para o Reino Unido. Atualmente, a sede está localizada nas instalações de um antigo orfanato em Cheshire, avaliada em cerca de dois milhões de euros.
Na Alemanha, onde a AROPL esteve sediada antes de se mudar para a Suécia, está aberta uma investigação sobre o desaparecimento de um membro alemão do grupo. Lisa Wiese, mãe de dois filhos, desapareceu quando visitava a Índia em 2019, com outro membro da AROPL.
"Má influência" do ensino regular
A religião promove várias crenças invulgares como, por exemplo, que a epilepsia pode ser curada ao colocar plantas nos órgãos genitais dos doentes. No entanto, o advogado da AROPL garante que esse tratamento nunca foi realizado.
Hashem já avisou os seus seguidores sobre a "má influência" do ensino regular nas crianças e encorajou-os a “tirar partido das leis” nos países que permitem o ensino em casa, como é o caso do Reino Unido. "Não podem controlar totalmente o que se passa com os vossos filhos enquanto eles se misturarem no exterior com pessoas que vocês não conhecem", disse.
O grupo relata que tem sido alvo de assédio e perseguição, sobretudo na Argélia, Malásia e Turquia, onde muitas das suas reivindicações, como a corrupção do Alcorão ou a tolerância para com as pessoas LGBT, são consideradas heresias. A Amnistia Internacional e outros grupos de defesa dos direitos humanos criticaram os alegados maus-tratos infligidos aos membros da AROPL, que os peritos das Nações Unidas classificaram como “uma minoria religiosa perseguida”.
A AROPL solicitou o estatuto de instituição de caridade no Reino Unido e o pedido está a ser analisado. O grupo já tem esse estatuto nos EUA e conta com centenas de apoiantes pelo Mundo, a quem é pedido que prometam fidelidade a Hashem através das redes sociais.