
Menorá em homenagem às vítimas de ataque a tiro projetado na Casa da Ópera de Sydney, na Austrália.
Foto: David Gray / AFP
Um tiroteio contra centenas de judeus reunidos numa praia australiana resultou na morte de pelo menos 15 vítimas e abalou o país, onde a violência armada é rara, levando o Governo a decidir reforçar o controlo de armas. O ataque aconteceu no final da tarde de domingo (manhã em Portugal) e foi perpetrado por dois homens, um pai e um filho, constituindo o mais recente dos episódios antissemitas na Austrália. O Governo propôs esta segunda-feira leis mais rigorosas para controlo de armas.
O que aconteceu
Dois homens atacaram a tiro um grupo de judeus reunidos num parque perto da praia turística de Bondi, em Sydney. Foram registadas 15 vítimas mortais, incluindo uma menina com 10 anos, um rabino e um sobrevivente do Holocausto.
Pelo menos 42 pessoas ficaram feridas, sete das quais continuam em estado crítico.
Motivações do ataque
O primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, classificou o ataque como um ato de terrorismo antissemita.
Um dos dois atacantes, o pai, de 50 anos - que foi, entretanto, morto pelas autoridades - chegou à Austrália em 1998 com um visto de estudante, mas as autoridades não divulgaram de que país tinha imigrado. O seu filho, de 24 anos, nascido já na Austrália, foi ferido pelas forças de segurança e está a ser tratado num hospital.
Os alvos dos dois homens foram as centenas de pessoas reunidas para celebrar o Hanukkah, o primeiro dia de uma festa judaica que dura oito dias.
Armas usadas e apelo a maior controlo
A Polícia informou que está a examinar vários objetos dos suspeitos, incluindo engenhos explosivos improvisados encontrados no carro de um dos homens.
Um dos atacantes, o pai, tinha licença de porte de armas, o que, na Austrália, permite a um adulto com um "motivo legítimo" ter uma espingarda ou caçadeira, mas não armas de fogo de disparo rápido. Os motivos considerados legítimos incluem tiro ao alvo, caça recreativa e controlo de pragas. A autodefesa não é um motivo aceite. A Polícia disse que o pai era membro de um clube de tiro.
Este foi o tiroteio mais mortífero naquele país nos últimos 30 anos.
O primeiro-ministro defendeu leis mais duras de controlo de armas, admitindo poder ser estabelecido um limite do número de armas por pessoa e apoiando uma revisão das licenças de porte. "As circunstâncias das pessoas mudam. As pessoas podem radicalizar-se com o tempo. As licenças [de porte de arma] não podem ser perpétuas", justificou.
Este foi o tiroteio mais mortífero naquele país nos últimos 30 anos.
Crimes antissemitas a aumentar
A Austrália, que tem 28 milhões de habitantes, dos quais cerca de 117 mil são judeus, foi palco de onda de ataques antissemitas no último ano. O número de incidentes - incluindo agressões, vandalismo, ameaças e intimidações - mais do que triplicou no país em 2024, no ano seguinte ao ataque do grupo islamita palestiniano Hamas a Israel, a07 de outubro de 2023, e à retaliação israelita em Gaza.
No ano passado, foram registados ataques antissemitas em Sydney e Melbourne, onde vivem 85% da população judaica do país. Sinagogas e carros foram incendiados, lojas e casas foram vandalizadas com graffiti e vários judeus foram atacados.
Apesar deste aumento, os tiroteios em massa são extremamente raros na Austrália. Um massacre em 1996 na cidade de Port Arthur, na Tasmânia, onde um atirador solitário matou 35 pessoas, levou o Governo a endurecer drasticamente as leis sobre armas, tornando muito mais difícil a sua aquisição.
Neste século houve mais três tiroteios que visaram grupos de pessoas, dois dos quais foram homicídios seguidos de suicídios. Um dos casos aconteceu em 2014, quando foram mortas cinco pessoas, e o outro em 2018, quando atiradores mataram as suas próprias famílias e a si próprios. Em 2022, seis pessoas foram mortas num tiroteio entre a polícia e extremistas cristãos numa propriedade rural no estado de Queensland.
Combate pelo Governo australiano
Em agosto, Albanese culpou o Irão por dois dos ataques e cortou relações diplomáticas com Teerão.
Há alguns meses, Israel instou o Governo australiano a combater os crimes contra os judeus, tendo o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, defendido que a decisão da Austrália - em consonância com dezenas de outros países - de reconhecer o Estado palestiniano "deita mais achas para a fogueira do antissemitismo".
O ataque de domingo foi condenado pela comunidade internacional, incluindo o secretário-geral da ONU, António Guterres, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
