A manutenção e reparação de armas é um dos grandes desafios para a Ucrânia (e para a Rússia), quando a guerra entre os dois países está prestes a completar um ano. A Polónia tem um papel central na manutenção do esforço de guerra de Kiev, enquanto Moscovo anuncia novas unidades de reparação de material bélico.
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A invasão da Ucrânia pela Rússia, a 24 de fevereiro de 2022, naquilo que Moscovo apelidou "de operação especial militar" dura há quase um ano. O inverno trouxe um impasse no campo de batalha, após uma contraofensiva ucraniana no outono, no nordeste e no sul, que permitiu recuperar milhares de quilómetros de território que estava sob controlo russo. Com a primavera a aproximar-se, os dois contendores preparam contraofensivas e afinam a máquina de guerra.
Um dos desafios para a Ucrânia, fortemente dependente da ajuda externa, enquanto aguarda a chegada de equipamento ofensivo mais moderno, como os tanques norte-americanos Abrams ou alemães Leopard 2, é manter e reparar o equipamento que tem ao serviço. Para se continuar operacional, o armamento precisa também de peças de substituição, além de munições de fabrico soviético, uma vez que muito do material usado pelos ucranianos e pelos russos foi fabricado antes da queda do Muro de Berlim, em 1989, como os tanques T-72, usados de ambos os lados.
"É seguro assumir que a Polónia é líder no que toca ao serviço de apoio ao equipamento usado pelos ucranianos no campo de batalha", reconhece Tomasz Smura. Especialista em tecnologias militares da Fundação Casimir Pulaski, falava ao jornal norte-americano "The Wall Street Journal" (WSJ), no âmbito de uma reportagem numa unidade secreta de reparação de equipamento militar ucraniano na Polónia.
O material ucraniano danificado é reparado em oficinas da companhia estatal de armamento, o Grupo Polaco de Armamento, sob apertada vigilância dos serviços secretos polacos, para prevenir atos de sabotagem que sucederam em outra unidades de reparação de armamento, como na Bulgária, por exemplo.
Os funcionários destas unidades são escrutinados durante um processo de recrutamento que dura vários meses. Todos, até os visitantes autorizados, têm de ser de nacionalidade polaca. Num local que o WSJ se comprometeu a não revelar, cerca de 400 trabalhadores trabalham em contrarrelógio, divididos em três turnos, e estão em contacto regular com os ucranianos na frente de batalha, adianta o WSJ.
Num complexo com o tamanho aproximado de um campo de futebol, os mecânicos atarefam-se a reparar equipamentos de guerra danificados, antes de serem enviados de volta para a frente de batalha. Partilham informação sobre as melhores soluções de reparação e trocam mensagens através de uma aplicação encriptada de Apoio ao Cliente.
Os mecânicos polacos dizem que já usaram a aplicação de conversa online para ensinar um carteiro ucraniano transformado em soldado pela invasão russa a reparar um míssil. E outros a consertar tanques, acrescenta o WSJ.
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Responsáveis polacos admitem que em breve possam expandir a manutenção e reparação a equipamentos fabricados no Ocidente, numa altura em que os EUA já se comprometeram a enviar 31 tanques Abrams M1 e cerca de 100 Leopard 2 de fabrico alemão, enviados por vários países europeus, entre os quais Portugal, estão também a caminho da frente de batalha.
Varsóvia acredita que os tanques Abrams vão ser reparados em solo polaco, na cidade de Poznan, transformando a Polónia no principal foco de manutenção e reparação de armamento da guerra na Ucrânia. Uma operação que se estende a outros países, como a Chéquia, a Roménia e a Bulgária.
Na Rússia, o primeiro-ministro Mikhail Mishustin anunciou, em setembro, um decreto que vai permitir criar novas unidades de reparação de armas em Moscovo e Rostov, revelou a imprensa oficial russa.