A falta de controlo do novo vírus implicaria "mortes desnecessárias", diz a OMS, ressalvando, por outro lado, que "fechar um país" não é opção: "Não defendemos os confinamentos como principal meio do controlo do vírus." Meio-termo é o ideal.
Corpo do artigo
A Organização Mundial de Saúde (OMS) desaconselha a estratégia de deixar o novo coronavírus disseminar-se para atingir a chamada "imunidade de grupo", considerando que coloca "problemas científicos e éticos".
"Deixar circular um vírus perigoso que ainda não entendemos completamente não é ético nem é uma opção", afirmou na segunda-feira o secretário-geral da organização, Tedros Ghebreyesus, em conferência de Imprensa, na sede da OMS, em Genebra, Suíça. Ghebreyesus frisou que deixar o vírus que provoca a covid-19 sem controlo "significaria infeções desnecessárias, sofrimento desnecessário e mortes desnecessárias".
A imunidade de grupo atinge-se quando se protegem as pessoas, não quando se expõem às doenças
"Imunidade de grupo", apontou, é um conceito médico relacionado com vacinação, que se verifica quando determinada população consegue estar protegida de uma doença infecciosa "a partir de um limiar" de pessoas vacinadas.
"A imunidade de grupo atinge-se quando se protegem as pessoas, não quando se expõem às doenças", declarou, salientando que "nunca na história da saúde pública" se agiu nesse sentido.
Pensar em deixar circular um vírus como o SARS-Cov2, afirmou Tedros Ghebreyesus, coloca "problemas científicos e éticos", desde logo porque não há ainda certezas sobre a capacidade de desenvolver imunidade sem vacina, uma vez que há casos de pessoas que apanharam a doença duas vezes. Além disso, referiu, só agora se estão a estudar os efeitos a longo prazo da covid-19 em pessoas que estiveram doentes.
Confinamento também não é opção
Combater a pandemia "não é uma escolha entre deixar o vírus à solta ou fechar um país", ressalvou Ghebreyesus. Proteger os mais vulneráveis e evitar concentrações que amplifiquem os contágios são medidas de saúde pública que a OMS continua a defender.
Na mesma linha, o responsável da Organização Mundial da Saúde para a covid-19 na Europa, David Nabarro, pediu aos governos para que não utilizem o confinamento como principal método para controlar a disseminação do coronavírus. "Os confinamentos têm apenas uma consequência que nunca deve ser subestimada: tornar os pobres muito mais pobres", afirmou, em entrevista à revista britânica "The Spectator".
"Nós, da OMS, não defendemos os confinamentos como principal meio do controlo do vírus", acrescentou, detalhando que o ideal é alcançar um meio-termo, que significa manter a economia e a vida social enquanto se controla o vírus, o que exige um "alto nível de organização por parte dos governos e uma notável adesão por parte das pessoas". Para isso, são essenciais medidas como "distanciamento físico, proteção facial, higiene, isolamento de doentes e proteção de pessoas vulneráveis".
"A única vez em que acreditamos que um confinamento se justifica é para ganhar tempo para reorganizar, reagrupar, reequilibrar recursos e proteger os profissionais de saúde que estão exaustos, mas, em termos gerais, preferimos não o fazer", frisou.