O fogo já destruiu mais de um milhão de hectares do Pantanal, que se estende pelo Brasil, Bolívia e Paraguai. É o pior novembro em quantidade de incêndios nos últimos 21 anos, com mais de três mil fogos em 15 dias.
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A maior planície alagada do mundo já registou o triplo de incêndios que os contabilizados em 2022. Até agora, o fogo consumiu mais de um milhão de hectares do bioma, com 3024 incêndios só em novembro.
Gustavo Figueiroa, biólogo e diretor do projeto SOS Pantanal, alerta para o facto de a situação estar "fora de controlo". Fotografias tiradas por voluntários e bombeiros mostram que parte da flora e da fauna está destruída.
Anderson Fernandes Barreto, veterinário no Brasil, afirmou ao portal "G1" que, se os incêndios mantiverem as proporções atuais, apenas chuvas fortes serão capazes de controlar a situação.
"O Pantanal era um bioma que tinha muitos animais, hoje chegamos a esta zona e é difícil encontrar animais vivos. Infelizmente, o que estamos a vivenciar aqui é um cemitério a céu aberto. A fauna e a flora estão a pagar com a vida o preço da nossa imprudência", realça o especialista.
O veterinário pede ainda às pessoas que passem pelas estradas locais que tenham cuidado e mantenham a velocidade reduzida. De acordo como profissional, muitos animais tentam fugir aos incêndios e arriscam-se a ser atropelados.
Os incêndios no local alastraram-se até Parque do Pantanal e Encontro das Águas e chegaram à estrada Transpantaneira, a principal via de acesso ao bioma de Mato Grosso. A preocupação das equipas de combate ao fogo é que as chamas ultrapassem a Transpantaneira, que é rodeada de casas, fazendas e pousadas. Na quinta-feira, habitantes e pessoas que se encontravam na zona tiveram mesmo de sair à pressa para se protegerem.
Os bombeiros estão a a tentar evitar a propagação dos incêndios para zonas residenciais, enquanto o Grupo de Resgate de Animais em Desastres (Grad) está a tentar salvar os animais da região.
Existem várias imagens que mostram animais de diversas espécies mortos pelo fogo, desde macacos, ouriço e aves, a crocodilos, jaguares e veados.
O governo de Mato Grosso publicou, na terça-feira, um decreto de emergência ambiental que reforça as ações de combate aos incêndios no Pantanal e prorroga o período de proibição de queimadas até 30 de novembro.
O Pantanal é conhecido pela sua biodiversidade, sendo o habitat de 3,5 mil espécies de plantas, 325 espécies de peixes, 53 espécies de anfíbios, 98 espécies de répteis, 656 espécies de aves e 159 tipos de mamíferos. A zona florestal também é responsável pelo abastecimento de água das cidades onde vivem aproximadamente 3 milhões de pessoas, no Brasil, Bolívia e Paraguai.
Chuva, vento e El Niño. Qual a causa dos incêndios?
A falta de precipitação e os efeitos do fenómeno El Niño serão as principais causas do recorde de incêndios no Pantanal, numa altura que deveria ser chuvosa, entre outubro e março, de acordo com especialistas. Segundo Guilherme Borges, meteorologista no Brasil, existem regiões isoladas onde a mão humana não pode ser a culpada das chamas.
"A chuva na região não acumula valores significativos e geralmente vem acompanhada de trovoada. Quando os raios atingem o solo e entram em contacto com a vegetação já muito seca, aumentam a ocorrência de queimadas. Outro fator importante é o vento, que ajuda a espalhar o fogo com mais facilidade", explica Borges, destacando ainda que a massa de ar quente derivada do El Niño também aumenta a probabilidade de incêndios.
As autoridades estão focadas na evacuação dos locais de risco, de forma a que o fogo não se alastre a zonas residenciais. A aproximação do fogo à fazenda Transpantaneira também é uma das grandes peocupações dos locais.
Algumas pessoas que se encontravam numa pousada perto de uma zona em chamas tiveram de ser evacuadas pelos bombeiros por uma questão de segurança. "Recebemos um alerta de que o prédio [da pousada] vai precisar de ser evacuado. As equipas estão a correr, porque o fogo já está muito próximo e o fumo aqui na área já é intenso. O corpo já está a sentir, com o nariz e os olhos irritados, pois o fogo está muito próximo", descreveu uma repórter da TV Centro América, que se encontrava no local.