A agência da ONU para os refugiados palestinianos (UNRWA) denunciou hoje a “incursão ilegal” de colonos e de pelo menos um deputado israelita na sua sede, em Jerusalém Oriental, que ameaçaram transformar num novo colonato judaico.
Corpo do artigo
“Entraram no complexo da UNRWA em Jerusalém Oriental ocupada sem autorização. Trouxeram bandeiras e espetaram-nas lá enquanto reivindicavam as nossas instalações para o estabelecimento de um novo colonato israelita”, denunciou a porta-voz da UNRWA, Juliette Touma, numa videoconferência de imprensa para os jornalistas em Genebra, Suíça.
Segundo a porta-voz, esta ação foi a mais recente em vários meses de assédio israelita contra a organização e os seus funcionários.
“Esta entrada não autorizada nas instalações da UNRWA viola a obrigação de Israel respeitar as instalações da ONU e os trabalhadores humanitários. Foi uma provocação ilegal”, sublinhou.
Desde janeiro passado, Israel proibiu a UNRWA de continuar a operar, apesar de a sua equipa local continuar a fazê-lo na Faixa de Gaza - cenário de uma guerra entre as forças israelitas e o grupo extremista palestiniano Hamas desde outubro de 2023 -, e deixou de emitir vistos aos seus funcionários internacionais.
Embora o bloqueio total à entrada de ajuda humanitária os impeça de cumprir a sua missão de transportar e distribuir ajuda, os responsáveis palestinianos da agência gerem abrigos para milhares de deslocados, bem como centros de saúde e clínicas móveis que viajam por Gaza para prestar os cuidados médicos mais básicos.
Israel tem acusado a UNRWA de não cumprir a sua obrigação de neutralidade, o que o comissário-geral da organização, Philippe Lazzarini, contesta, tendo hoje afirmado que o Governo israelita faz “acusações infundadas” e sem provas.
“Nos últimos 20 meses, o Governo de Israel tem feito continuamente acusações infundadas contra a UNRWA e a sua neutralidade. Estas alegações colocaram seriamente em risco a vida dos trabalhadores da UNRWA e prejudicaram a reputação da agência”, lamentou num comunicado publicado nas redes sociais.
Lazzarini revelou ter escrito recentemente uma carta ao ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, Gideon Saar, para lembrar as “medidas concretas” tomadas, “durante mais de uma década”, pela agência, “em cooperação com o Governo de Israel” para garantir a transparência e neutralidade.
“A agência solicitou repetidamente a cooperação do Governo de Israel no fornecimento de informações e provas para apoiar as alegações contra a UNRWA”, explicou, antes de lamentar nunca ter recebido qualquer resposta.
“O Governo israelita não partilhou provas suficientes para apoiar as graves alegações contra a agência e o seu pessoal”, disse Lazzarini, insistindo que “as Nações Unidas dependem dos Estados-membros para a segurança das suas instalações e pessoal”.
Israel acusou dezenas de trabalhadores de alegada filiação no Hamas e afirmou que as infraestruturas do grupo islamita estão escondidas sob as instalações da organização, embora uma investigação independente liderada pela ex-ministra dos Negócios Estrangeiros francesa Catherine Colonna tenha concluído, em abril de 2024, que as autoridades israelitas não apresentaram provas que sustentassem estas alegações.
As autoridades israelitas fecharam dezenas de instalações da agência na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental após uma decisão do parlamento israelita que proibia as atividades da agência, uma medida que provocou uma onda de condenação internacional.