Edmundo González Urrutia afirma que teve 70% dos votos e não vai descansar até que “a vontade do povo” seja respeitada.
Corpo do artigo
Nicolás Maduro foi proclamado vencedor das eleições presidenciais da Venezuela. Segundo o Conselho Nacional Eleitoral, a reeleição foi assegurada por 51,2% dos votos, contra 44,2% de Edmundo Gonzáles Urrutia. Mas a oposição reclama a vitória, recusando-se a reconhecer os resultados. A situação no país está a ser seguida com atenção pelo secretário de Estado das Comunidades Portuguesas. José Cesário disse ao JN que “a comunidade está tranquila” (ler texto ao lado).
“Ganhámos com 70% dos votos. A Venezuela tem um novo presidente eleito e é Edmundo González Urrutia”, declarou Maria Corina Machado aos jornalistas, em Caracas, a capital venezuelana. A líder da Oposição anunciou para os próximos dias ações “para defender a verdade”, enquanto o candidato se referiu ao ato eleitoral de domingo como uma violação das normas. “Sabemos nós, os venezuelanos, e o Mundo inteiro, o que aconteceu na jornada eleitoral. Aqui violaram-se todas as normas ao ponto de não ter sido entregue a maioria das atas”, afirmou Urrutia, candidato pela Plataforma Unitária Democrática, para acrescentar: “A nossa luta continua e não descansaremos até que a vontade do povo da Venezuela seja respeitada”.
Segundo o jornal “The Guardian”, os observadores independentes consideram que estas eleições foram “as mais arbitrárias dos últimos anos”, mesmo para os padrões de um regime autoritário. Entre as queixas de irregularidades, muitas denunciadas nas redes sociais, estão a instalação antecipada de assembleias de voto sem a presença de representantes da oposição, a contagem dos votos a passar dos 100% e a falta de publicação de um elevado número de atas.
“Derrotar o fascismo, os demónios, as demónias, é um feito histórico e o nosso povo conseguiu, o nosso povo conseguiu de novo”, disse Maduro, depois de receber das mãos do presidente do Conselho Nacional Eleitoral a credencial simbólica de governação. “Está a ser feita uma tentativa na Venezuela para impor um golpe de Estado”, acrescentou, a propósito da reação internacional.
Mundo reage
Por todo o Mundo surgiram reações aos resultados, totalmente contrários ao que as sondagens davam a entender. Na rede social X, o ministro português dos Negócios Estrangeiros afirmou ser “necessária a verificação imparcial dos resultados”. Referindo que só “a transparência garantirá a legitimidade”, Paulo Rangel deixou um apelo “à lisura democrática e ao espírito de diálogo”.
“Tomámos nota do anúncio das autoridades eleitorais, bem como das preocupações expressas pelos atores políticos e membros da comunidade internacional. O secretário-geral apela à total transparência e incentiva a publicação atempada dos resultados eleitorais com a distribuição por assembleia de voto”, referiu, por seu turno, Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres.
“Temos sérias preocupações de que o resultado anunciado não reflita a vontade ou os votos do povo venezuelano”, referiu Antony Blinken, secretário de Estado dos EUA. Por seu lado, Josep Borrell, chefe da diplomacia da União Europeia, afirmou que “garantir a total transparência no processo eleitoral, incluindo a contagem detalhada dos votos, é vital”.
Preocupações quanto à transparência foram também manifestadas por países como Espanha, Reino Unido, França e nações latino-americanas. Leopoldo López, opositor venezuelano no exílio, referiu-se ao ato eleitoral como “uma fraude insustentável”. Ao contrário, estados como Rússia, China, Nicarágua, Cuba e Irão felicitaram Maduro.
Na ilha da Madeira, cerca de uma centena de pessoas manifestaram-se contra os resultados, reclamando uma “Venezuela livre”.
Portugal muito atento à evolução da situação
Portugal está em “contacto permanente” com a embaixada, consulados, dirigentes associativos e conselheiros locais, segundo o secretário de Estado das Comunidades. Em declarações ao JN, José Cesário reconheceu que “há tensão” no país, mas sublinhou que entre os portugueses “reinam a calma e a tranquilidade”. Sem comentar os resultados, deixou um apelo aos portugueses: “Que evitem envolver-se em qualquer alteração da ordem pública”. José Cesário lembra que “os portugueses na Venezuela conviveram com vários regimes e vão continuar a conviver”, reforçando a ideia de que os governantes em Portugal estão “muito atentos à evolução da situação” no país, onde vive cerca de um milhão de pessoas de origem portuguesa, “essencialmente lusodescendentes”. Na rede X, em que solicitou uma verificação imparcial dos resultados, o ministro dos Negócios Estrangeiros deu as mesmas garantias. “Acompanhamos sempre a comunidade portuguesa”, disse Paulo Rangel numa mensagem naquela rede social.