Criar um filho macho reduz significativamente as hipóteses de as mães orcas terem outra cria no futuro. Depois de uma pesquisa de quase 40 anos, a Universidade de Exeter, no Reino Unido, e o Centro de Pesquisa de Baleias descobriram que a forte dependência dos machos está a pôr em causa a sobrevivência da comunidade das orcas "residentes do sul", já em risco de extinção.
Corpo do artigo
As orcas permanecem intimamente ligadas às famílias ao longo das suas vidas. Mas enquanto as crias fêmeas se tornam independentes na idade adulta, os machos continuam a depender das mães, exigindo mesmo uma parte da comida que as matriarcas apanham. "As mães [orcas] sacrificam a própria comida e energia pelo filho", afirmou Darren Croft, um dos investigadores que participou na pesquisa, à BBC. Em suma, a energia que despendem para alimentar os filhos compromete a saúde destes animais, deixando-os menos capazes de se reproduzirem e de criarem outros filhos.
O estudo de décadas, publicado na revista "Current Biology" na quarta-feira, faz parte de uma missão contínua para compreender a vida familiar destes mamíferos.
O Centro de Pesquisa de Baleias (CWR, sigla em inglês) estudou a população de orcas, conhecidas para os investigadores como as "residentes do sul" - por viverem entre o extremo sul da ilha de Vancouver, no Canadá, e as águas do estado de Washington, nos EUA - durante quase 40 anos. Os cientistas examinaram a vida de 40 orcas fêmeas, entre 1982 e 2021, e descobriram que para cada filho vivo, a probabilidade de uma mãe ter outra cria é reduzida para metade.
"A nossa investigação anterior mostrou que os filhos têm uma maior probabilidade de sobrevivência se a mãe estiver por perto", relembrou o investigador Michael Weiss. "Queríamos saber se esta ajuda tem um preço e a resposta é sim. As mães 'baleias assassinas' pagam um custo elevado em termos da capacidade de reprodução futura para manter os filhos vivos", sublinhou.
As orcas são o maior membro da família dos golfinhos, apesar de vulgarmente serem chamadas de baleias. Depois do Homem, é o mamífero com maior distribuição geográfica, estando presente em todos os oceanos. Atualmente restam apenas 73 orcas "residentes do sul", por isso, os cientistas acreditam que precisam de descobrir tudo o que possa ajudar a tomar decisões acertadas sobre a forma de proteger estes mamíferos.
"Qualquer coisa que reduza a capacidade de reprodução das orcas é uma preocupação", notou o investigador Darren Croft.