O Estado norueguês, o maior produtor de petróleo na Europa ocidental, enfrenta a partir desta terça-feira os tribunais na sequência de um processo interposto por várias organizações ambientalistas que contestam a concessão de licenças para prospeção petrolífera no Ártico.
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Entre as organizações ambientalistas que estão a processar a Noruega constam a Greenpeace, a Natur og Ungdom e a Grandparents' Climate Campaign.
O objetivo do processo é reverter a autorização atribuída pelo Estado norueguês, em 2016, para o avanço de prospeção petrolífera nas águas do mar de Barents, no Oceano Glacial Ártico.
A prospeção é uma violação do Acordo de Paris e da Constituição norueguesa
As organizações também acusam a Noruega de quebrar o Acordo climático de Paris, alcançado em finais de 2015, e uma disposição da Constituição, alterada em 2014, que garante o direito a um ambiente saudável.
Concluído em 12 de dezembro de 2015 durante a conferência das Nações Unidas sobre o clima (COP21) em Paris, assinado por 195 países e já ratificado por mais de 140, o acordo climático entrou formalmente em vigor em 4 de novembro de 2016, e visa limitar a subida da temperatura mundial reduzindo as emissões de gases com efeito de estufa. A Noruega foi um dos primeiros países a ratificar o acordo.
Segundo as organizações ambientalistas, trata-se da primeira queixa judicial apresentada contra um Estado (feita em outubro de 2016) que é apoiada nos termos dos acordos firmados durante a COP21.
"É claro para nós que a prospeção é uma violação do Acordo de Paris e da Constituição norueguesa, e estamos ansiosos para abordar estas questões nos tribunais", disse um responsável da Greenpeace Noruega, Truls Gulowsen, num comunicado divulgado na segunda-feira.
Nas observações preliminares, a advogada das organizações ambientalistas, Cathrine Hambro, pediu ao tribunal para determinar se a decisão de autorizar a prospeção de petróleo "era consistente com as diretrizes existentes para decisões que poderão ter consequências irreversíveis", relatou a agência noticiosa norueguesa NTB.
A Noruega, cujas receitas petrolíferas estão em declínio - a produção de petróleo bruto foi reduzida para metade desde 2001 -, atribuiu em maio de 2016 dez licenças a 13 grupos petrolíferos, incluindo à empresa nacional Statoil, aos norte-americanos da Chevron e da ConocoPhillips, à alemã DEA, à japonesa Idemitsu e à sueca Lundin.
O Estado nórdico também atribuiu licenças ao grupo austríaco OMV e ao russo Lukoil.
As organizações ambientalistas reclamam a anulação destas licenças, argumentando com o risco ambiental da prospeção petrolífera.
"Uma decisão favorável aos ambientalistas será notada e poderá fazer jurisprudência", frisou o professor de Direito da Universidade de Oslo, Ole Kristian Fauchald, em declarações à emissora pública norueguesa de televisão e rádio NRK.
O julgamento que arrancou esta terça-feira em Oslo deverá prolongar-se até 23 de novembro.