O número de ataques com ácido em Inglaterra quase triplicou desde 2012. Rápido, de fácil conceção e com efeitos devastadores para as vítimas, o fenómeno está a preocupar as autoridades britânicas.
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De acordo com dados da polícia britânica, recolhidos agora pela BBC, entre 2012 e 2013, registaram-se 183 ataques com substâncias corrosivas em Inglaterra.
Apesar de ainda faltarem cinco meses para o final do ano, o número deste tipo de ocorrências entre 2016 e 2017 quase triplicou, passando para os 504.
Em Londres, as autoridades britânicas registaram 208 ataques com ácido entre 2016 e 2017, sendo que 38 destes casos causaram ferimentos graves nas vítimas e um foi mesmo fatal.
Os mesmos dados mostram que os homens têm maior probabilidade de serem alvo deste tipo de ataques, em Londres, do que mulheres e que uma grande percentagem deste tipo de crimes está ligado a gangues de crime organizado.
Casos em Londres multiplicam-se
Em abril, 20 pessoas ficaram feridas, duas com gravidade, na sequência de um ataque com ácido numa discoteca no leste de Londres. Arthur Collins, de 25 anos, foi detido e acusado de 14 crimes relacionados com o ataque.
No mês passado, Jameel Muhktar e a sua prima Resham Khan, ambos muçulmanos, foram atacados com uma substância corrosiva quando pararam o carro num semáforo, em Londres. O casal sofreu danos irreversíveis na pele.
A gravidade dos ferimentos levaram os médicos a colocar Jameel em coma induzido durante dois dias. John Tomlin, um homem caucasiano de 24 anos, é o principal suspeito da autoria deste crime. Está em prisão preventiva.
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Um adolescente de 16 anos e outro de 15 estão acusados de terem atacado com ácido cinco homens, que conduziam motorizadas, no centro de Londres, num espaço de 90 minutos, na quinta-feira.
No início do mês, uma mulher grávida ficou ferida na sequência de um ataque com uma substância corrosiva na barriga quando passeava com o companheiro, que foi atacado na cara, numa rua da capital inglesa. A polícia londrina deteve um homem suspeito de ter levado a cabo o ataque.
No passado domingo, uma paramédica foi atacada na cara com ácido por três homens, em Tottenham.
Na grande maioria dos casos, os ataques deixam as vítimas com ferimentos, físicos e psicológicos, permanentes.
Ataques com ácido são difíceis de julgar
Uma das explicações para o aumento destes casos prende-se com as vantagens judiciais em praticar este tipo de crimes, em detrimento de outros semelhantes como um esfaqueamento, por exemplo.
No sistema judicial inglês "não há nenhuma ofensa específica para um ataque com ácido. Um crime deste género é difícil de provar porque raramente deixa rastos de ADN e, por comparação, é muito mais fácil descartar uma garrafa de plástico do que uma faca", explicou o criminologista Simon Harding à BBC.
Este tipo de ataques passou a ser a "arma de eleição" de membros de gangues londrinos.
O problema, revela o especialista, tem de ser combatido pelo governo britânico em mais do que uma frente. Em primeiro lugar, é necessário combater a facilidade com que se pode ter acesso a substâncias corrosivas. Em segundo, este tipo de crimes devem ser julgados como se de um "esfaqueamento" se tratasse.
Os criminosos sabem que há vantagens em usar ácido, em vez de uma faca, para magoar alguém, diz o especialista. "Em casos de esfaqueamento as acusações são mais graves e as penas de prisão são mais pesadas", reforçou.
Britânicos exigem legislação
Os tipos de substâncias ácidas usadas nos ataques são fáceis de adquirir em qualquer drogaria ou hipermercado.
O crescente número de ataques já levou alguns advogados a pedirem a restrição da venda de líquidos corrosivos como ácido sulfúrico e uma revisão da legislação britânica em relação a estes produtos.
O tema chegou mesmo ao Parlamento britânico, na passada segunda-feira, que está a considerar aplicar novas restrições à venda de substâncias corrosivas.
Por outro lado, conta o jornal "The Guardian", fonte da Conselho Nacional da Polícia Britânica (NPCC), explicou que é virtualmente impossível banir a venda de todas as substâncias corrosivas porque muitas estão presentes em produtos de limpeza para a casa como detergentes ou produtos para limpar os canos.