O presidente da Argentina, o futebolista Lionel Messi, o cineasta espanhol Pedro Almodóvar e amigos próximos do presidente russo, Vladimir Putin, figuram na lista de personalidades divulgada este domingo na sequência de uma fuga de informação envolvendo a empresa de advogados panamiana Mossack Fonseca.
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A lista, que inclui 72 chefes ou ex-chefes de Estado, foi divulgada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação, que agrega repórteres de mais de uma centena de meios de comunicação.
A série de nomes - já conhecida como "Os documentos de Panamá" - inclui o rei da Arábia Saudita, o presidente da Ucrânia, os primeiros-ministros da Islândia e do Paquistão, amigos do Presidente russo Vladimir Putin, o ex-presidente da UEFA, Michel Platini, e a irmã do rei Juan Carlos e tia do rei Felipe VI de Espanha, Pilar de Borbón.
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A documentação refere que foram criadas milhares de empresas "offshore" e paraísos fiscais para que políticos e personalidades administrassem o seu património.
Embora o nome de Vladimir Putin não surja nos documentos, é grande a lista de amigos do presidente russo que, de acordo com o jornal inglês "The Guardian", montaram diversas sociedades com um valor próximo dos 1 800 milhões. Entre eles destaca-se Sergei Roldugin, o melhor amigo de Putin, que lhe apresentou a sua futura mulher (divorciaram-se entretanto) e é padrinho da filha mais velha.
Sigmundur Davíð Gunnlaugsson, primeiro ministro da Islândia, e a sua mulher, Anna Sigurlaug Pálsdóttir, são outros dos nomes da lista. Terão adquirido, através de um banco, a sociedade Wintris Inc, gerida por Mossack Fonseca. O casal usou a sociedade para investir alguns milhões de dólares, que haviam sido herdados por Anna Pálsdóttir, em obrigações do tesouro islandês durante a crise financeira daquele país. Como primeira consequência do escândalo, o primeiro-ministro deverá enfrentar pedidos de eleições antecipadas no Parlamento.
Petro Poroshenko, multimillonário e presidente da Ucrânia desde 2014 é o único acionista da Prime Asset Partners, sediada nas Ilhas Virgens Britânicas. Terá usado a empresa para movimentar dinheiro proveniente da sua fábrica de doces, a Roshen.
Mauricio Macri, presidente de Argentina, juntamente com o pai e um irmão, administrava a empresa Fleg Trading Ltd, constituída na Baamas em 1998 e dissolvida em 2009. O presidente argentino ocultou esta ligação em 2007 e 2008, quando era presidente da Câmara de Buenos Aires. De acordo com o jornal espanhol El Pais, o governante declarou uma conta bancária nos Estados Unidos com 9,1 milhões de dólares (cerca de oito milhões de euros), em 2007, e 5,9 milhões (cerca de cinco milhões de euros) no seguinte. Declarou meio milhão de dólares (437 mil euros) em ativos no estrangeiro, em 2008, mas não especificou a sua origem. Um porta-voz do Governo argentino referiu ao El País que as contas pertencem ao grupo familiar Socma.
Também o rei da Arábia Saudita, Salmán bin Abdulaziz, utilizou uma sociedade com sede nas Ilhas Vírgens Británicas para constituir dus hipotecas sobre moradias de luxo no centro de Londres. Na documentação divulgada o monarca figura como o utilizador de iate registado naquele território. Aliás, uma das inúmeras áreas de negócio da Mossack Fonseca é a prestação de serviços na área marítima, desde o registo de embarcações em diferentes países até à obtenção de licenças para tripulantes.
Pilar de Borbón, irmã do rei Juan Carlos e tia de Felipe VI, dirigiu, de 1974 a 2014, a empresa Delantera Financiera SA, com sede no Panamá, A firma só foi extinta cinco dias depois de Felipe VI ter sido proclamado rei de Espanha, em 2014.
O futebolista Lionel Messi mantém no Panamá a Mega Star Enterprises Inc, que tem como único acionista o seu pai. Os únicos beneficiários são o próprio futebolista e o pai. O craque já anunciou que vai processar o jornal espanhol que deu conta do seu envolvimento neste escândalo, mas, no imediato, ele e o seu pai, Jorge, estão acusados em Espanha de fuga ao fiscal, num caso que deverá começar a ser julgado no dia 31 do próximo mês. A Mega Star Enterprises, que gere os direitos de imagem do futebolista, foi comprada um dia depois de Messi ter sido indiciado neste processo.
Michel Platini também não escapa ao escândalo. O antigo futebolista e ex-presidente de la UEFA, suspenso por alegado envolvimento num caso de corrupção é o único dono da Balney Enterprises, criada no Panamá poucos meses depois de Platini ter sido nomeado para a UEFA.
O cineasta Pedro Almodóvar e o seu irmão, Agustín, geriam a empresa Glen Valley Corporation, sediada nas Ilhas Virgens. A firma funcionou entre março de 1991 e novembro de 1994. Os dois irmãos já negaram à imprensa espanhola qualquer participação direta o indireta em sociedades offshore.
O popular ator Jackie Chan, conhecido pelos seus papéis em filmes de artes marciais, é acionista de seis sociedades que têm sede nas Ilhas Virgens Britânicas.
A lista engloba também mais de 500 bancos e subsidiárias, entre os quais o HSBC e o UBS, que terão impulsionado a criação de empresas em paraísos fiscais e estabelecido mais de 15 mil empresas deste tipo para os seus clientes através da Mossack Fonseca.
A empresa comunicou aos seus clientes que foi alvo de um ataque informático
A empresa de advogados, especialista na gestão de capitais e patrimónios, negou à agência espanhola Efe qualquer vinculação a delitos que possam ter cometido centenas de milhares de clientes, de acordo com informações tornadas hoje públicas.
Ramón Fonseca Mora, sócio da empresa, disse que a companhia tem 40 anos de atividade legal e que criou 240 mil estruturas jurídicas, sem ter sido acusada ou condenada por qualquer crime.
Segundo a imprensa, a empresa comunicou aos seus clientes que foi alvo de um ataque informático e que os seus dados poderão ter sido afetados.
Mmais de 214 mil entidades "offshore" aparecem, em 11,5 milhões de documentos, ligadas a mais de 200 países e territórios
A fuga de informação pôs a descoberto os bens de 140 responsáveis políticos ou personalidades em paraísos fiscais.
O Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação precisa, na sua página na internet, que mais de 214 mil entidades "offshore" aparecem em 11,5 milhões de documentos, ligadas a mais de 200 países e territórios.