Daniel Drucker, canadiano de 68 anos, pai do medicamento Ozempic, defende que a médio prazo o fármaco vai passar a ser considerado por governos e seguradoras como uma arma contra a "epidemia da obesidade". Apesar de admitir o exagero que existe pelo medicamento por motivos estéticos, destaca os benefícios para a saúde.
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Entrevistado pelo jornal espanhol "El País", a propósito da distinção com o Prémio Fronteiras do Conhecimento, Daniel Drucker afirma que a sociedade atual se encontra perante uma "epidemia da obesidade", que tem de ser explicada não só pelo que se come, como por diferentes variáveis que vão obrigar as entidades de saúde pública não só em combatê-la, mas, sobretudo, a preveni-la.
Mesmo admitindo que o medicamento que criou se enraizou de forma excessiva na sociedade atual, depois de ter ganhado fama pelos resultados na procura de perda de peso, o investigador defende que os benefícios têm de ser debatidos. Relembrando um estudo com 17 mil pessoas, que incluiu pessoas com diabetes, aponta para uma redução de 20% nos enfartes e AVC e de 19% menos óbitos em três anos e meio quando tomavam semaglutida GLP-1, o princípio ativo do Ozempic. "Creio que veremos cada vez mais provas que a obesidade com comorbilidades - pessoas com patologia cardíaca, hepática ou renal - implica o risco de desenvolver doenças que custam muito dinheiro", explicou ao diário espanhol.
O medicamento, procurado para perder peso, é ainda alvo de interesse pela indústria anti-envelhecimento. Daniel Drucker destaca a dificuldade de estudar as pessoas ao longo de décadas para perceber os efeitos da semaglutida, apontando para uma fase de investigação nesta área ainda embrionária.
A demanda pelo Ozempic, muito para além das pessoas com diabetes e com obesidade, levou a empresa dinamarquesa Novo Nordisk a tornar-se a mais valiosa da Europa. "Se todos os que querem perder peso fossem financiados com GLP-1, não sobraria dinheiro para mais nada. Temos apenas um orçamento específico para saúde e medicamentos, e tentamos alocá-lo onde for mais benéfico", explicou o catedrático da Universidade de Toronto que recusa que o medicamento possa vir a ser usado só para o controlo de apetite.
"Sou cientista e muito conservador. Jamais sugeriria deixarmos de investigar as causas da obesidade. Lembro sempre às pessoas que não temos dados suficientes para saber qual a segurança e o benefício. Se alguém me dissesse: 'Quero saber se é seguro tratar pessoas que não têm diabetes tipo 2 ou obesidade, mas que querem perder 10 quilos porque se sentiriam melhor se pudessem voltar ao peso do ensino básico', eu diria: vamos fazer um ensaio clínico. Vamos pegar 5.000 pessoas com IMC entre 25 e 28, tratá-las por seis a doze meses e ver se a relação risco-benefício é favorável".