O Governo dos Países Baixos vai impor novos limites à exportação de máquinas para o fabrico de microchips. Maior empresa tecnológica da Europa é holandesa e admite que vai ter de rever encomendas, mas mantém China como cliente de peso.
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O Governo holandês confirmou, na quarta-feira à noite, a anuência ao acordo celebrado com os EUA, em janeiro, para introduzir restrições às exportações de tecnologia avançada de chips, os pequenos componentes eletrónicos que equipam quase tudo nos dias de hoje, desde telemóveis, carros, naves espaciais ou armas de longo alcance.
"Dado o desenvolvimento tecnológico e o contexto geopolítico, o governo concluiu que é necessário para a segurança (inter)nacional expandir os controlos existentes em especial no fabrico de equipamento para semicondutores", escreveu o Ministro do Comércio Externo holandês, Liesje Schreinemacher, numa carta aos deputados dos países baixos, na quarta-feira à noite.
Embora a carta não mencione a China, esta nova política do executivo holandês enquadra-se nos esforços de Washington para estrangular o fornecimento de microchips ao regime de Xi Jinping. O ministro holandês escreveu que o Governo quer impedir a tecnologia holandesa de ser usada em sistemas militares ou armas de destruição em massa, fazendo eco das razões avançadas pelos EUA para impor controlos à exportação deste tipo de equipamentos, em outubro.
A reação de Pequim foi rápida. Uma porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros chinês afirmou que a medida pretende "privar a China do seu direito ao desenvolvimento", numa referência aos Estados Unidos.
"Opomo-nos firmemente à interferência nas trocas económicas e comerciais normais entre empresas chinesas e holandesas", disse a porta-voz Mao Ning.
As restrições anunciadas configuram um golpe para a AMSL, líder mundial do fabrico de máquinas de produzir chips. Na carta, Schreinemacher diz que as restrições incluem as mais avançadas máquinas de fabrico por ultra violeta (DUV, na sigla em inglês), que fazem parte do portefólio daquela que é a mais valiosa empresa tecnológica da Europa, sediada em Veldhoven, no sul dos Países Baixos.
O acordo, feito em janeiro entre Países Baixos, Japão e Estados Unidos, os três únicos países do Mundo com capacidade para fabricar máquinas de produzir semicondutores, não mexeu nas previsões de futuro da ASML. Enquanto não se sentem efeitos do anúncio da noite de quarta-feira, a empresa mantém a China como um cliente de peso, com 18% do total de encomendas registadas, de acordo com declarações do diretor-executivo financeiro, Roger Dassen, ao jornal "Politico".
O Governo holandês diz que o objetivo das restrições é mais vasto e que é um avanço no aprofundamento do chamado Acordo de Wassenaar, que tem como objetivo o controlo das exportações de armas convencionais e produtos de uso duplo, que podem ser utilizados para fins civis e aplicações militares. A Rússia, em guerra com a Ucrânia desde fevereiro de 2022, é um dos 42 signatários do documento e pode bloquear uma proposta tendente a aumentar o nível das restrições às exportações.
Consciente das objeções de Moscovo, um cliente forte do mercado, para uso nos mísseis e demais armamento que usa na guerra, os Países Baixos dizem que vão estabelecer uma lista própria de controlo de exportações. O documento, que deverá estar pronto no verão, pode ser copiado por outros estados-membros da União Europeia, que queiram alinhar nas restrições.