Com apenas 23 anos, Paloma morreu de cancro no Reino Unido, depois de ter rejeitado a quimioterapia. Dois dos irmãos culpam a mãe, uma influencer de teorias da conspiração.
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Paloma, que morreu no ano passado depois de uma paragem cardiorespiratória "recebia informações falsas", explicou o irmão gémeo Gabriel Shemirani, em entrevista à AFP. "A nossa mãe opunha-se aos tratamentos médicos que poderiam tê-la salvado".
Kate Shemirani, uma ex-enfermeira inabilitada de exercer a profissão, é conhecida nas redes sociais pelas suas posições contra as vacinas e a quimioterapia, que considera "veneno" ou "gás mostarda", e por promover tratamentos alternativos não comprovados.
Paloma adoeceu em 2023, aos 22 anos, pouco depois de terminar os estudos universitários. A jovem foi diagnosticada com linfoma não Hodgkin (LNH), um cancro "altamente tratável", segundo o sistema público de saúde britânico (NHS). Porém, a jovem rejeitou a quimioterapia, influenciada, segundo Gabriel, pela mãe, que apoiava os tratamentos alternativos. A jovem escolheu um tratamento controverso baseado em enemas e sumos vegetais, mas acabou por morrer na casa da mãe em julho de 2024.
O tratamento feito por Paloma, desenvolvido na década de 1930 pelo médico Max Gerson, é uma terapia alternativa para tratar doenças graves, incluindo o cancro, através de uma combinação de dieta rigorosa, suplementos nutricionais, sumos naturais e enemas de café. Segundo a Cancer Research UK, não existe "nenhuma evidência científica" de que o método Gerson possa tratar o cancro.
"A minha mãe é uma conspiracionista que pediu para enforcar médicos e enfermeiros", contou Gabriel, estudante na London School of Economics, ao programa da BBC "Panorama", explicando que cresceu rodeado por teorias conspiratórias difundidas por seus pais.
Irmãos pedem justiça
Com o seu irmão mais velho, Sebastian, Gabriel recorreu à Justiça nos últimos meses de vida de Paloma para que fosse atendida por um médico e solicitou a intervenção dos serviços sociais e da polícia.
Sem conseguir salvá-la, os dois irmãos conseguiram abrir uma investigação em 28 de julho. "Quero que o médico legista explique porque é que ela morreu e que isso seja seguido por uma investigação policial", disse Gabriel.
A mãe de Paloma afirmou, numa publicação no X (antigo Twitter), que a filha "nunca foi forçada" e apresentou uma carta de abril de 2024 na qual a jovem indicava que não havia "sofrido nenhum abuso" por parte da sua mãe.
Para Kate Shemirani, a filha morreu devido a "uma cadeia de graves erros médicos, violações da lei de consentimento, falsificação de registos médicos e o uso imprudente de medicamentos de emergência".
Suspensa no Twitter em 2022 pelos seus comentários sobre a covid-19, a mulher foi reintegrada ao X em 2023, onde conta com mais de 81 mil seguidores, além de 28 mil no Facebook e 21 mil no Instagram. No seu site, oferece consultas pagas e vende sementes de damasco e vitaminas.
Gabriel Shemirani pede uma melhor regulamentação dos conteúdos médicos nas redes sociais. "Não se deveriam fazer afirmações médicas que vão contra o consenso científico, e deveria existir um órgão independente que responsabilizasse as plataformas quanto aos conteúdos médicos", destaca.