<p>Chegado a Jerusalém, Bento XVI respondeu de imediato ao que dele se esperava. Visto de soslaio pelos judeus, depois de ter levantado a excomunhão a um bispo negacionista, disse que o Holocausto jamais poderá ser negado.</p>
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Neste ano de 2009, o Papa segue de algum modo as pisadas do predecessor, João Paulo II, que andou pelos mesmos lugares em 2000. A diferença está nas circunstâncias de um e de outro pontífice. Se coube ao pontífice polaco traçar o rumo da conciliação com os judeus, orando pelas vítimas do Holocausto junto ao Muro Ocidental (o lugar mais sagrado do Judaísmo, vulgarmente conhecido por "muro das lamentações"), ao pontífice alemão competia agora quebrar a desconfiança que contra ele se ergueu.
Fê-lo com diplomacia, atacando o negacionismo e rotulando como "inaceitáveis" todas as formas de anti-semitismo. Porém, não cedeu em tudo. Na visita ao memorial Yad Vashem, onde as vítimas do nazismo são lembradas e honradas, Bento XVI não entrou no local onde está exposta uma foto do Papa Pio XII, com legenda que o acusa de ter permanecido em silêncio face ao extermínio de seis milhões de judeus. João Paulo II fizera o mesmo.
Há outra notória diferença, no que respeita à relação deste Papa com o Judaísmo e com o Holocausto. Alemão que cresceu sob o regime nazi, chegou a ser membro da Juventude Hitleriana, como era exigido aos jovens do seu tempo. É passada a imagem, porém, de que nunca foi um membro entusiástico, e parece não haver ressentimentos a esse respeito. Foi cumprimentado por seis sobreviventes do Holocausto e fez um discurso sóbrio e significativo: "Perderam as vidas, mas jamais perderão os nomes. Estes permanecem gravados nos corações dos que amavam, dos companheiros de cativeiro que sobreviveram e de todos os que estão determinados a não permitir que uma tal atrocidade volte a desgraçar a humanidade".
No primeiro dia em Israel, como peregrino político que evidentemente é (tal como sempre o foi o predecessor), Bento XVI fez uma primeira abordagem, junto do Estado judaico, relativamente ao processo de paz. O presidente Shimon Peres, que o recebeu e que com ele esteve reunido mais tarde, disse esperar que a visita papal "ajude a pavimentar o caminho para a paz". Porém, este histórico dirigente israelita que ocupa um cargo não executivo tem, como se sabe, ideias distintas das do actual Governo, chefiado por Benjamin Netanyahu, que não se entusiasma com a criação de um Estado palestiniano.