O Papa Leão XIV defendeu, esta quarta-feira, que a memória dos 80 anos dos bombardeamentos atómicos de Hiroshima e Nagasaki "sirva de advertência universal contra a devastação causada pela guerra, e em particular pelas armas nucleares".
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Num apelo no final da audiência-geral na Praça de São Pedro, na Cidade do Vaticano, o Papa norte-americano destacou que o mundo está atualmente "marcado por intensas tensões e conflitos sangrentos" e lembrou que "a segurança ilusória baseada na ameaça da destruição mútua dê lugar à prática do diálogo e à confiança da fraternidade".
Nesse sentido, Leão XIV dedicou as orações do dia "a todos os que sofreram os efeitos físicos, psicológicos e sociais" das bombas atómicas.
Na terça-feira, numa mensagem dirigida ao bispo de Hiroshima, Alexis Mitsuru Shirahama, por ocasião da efeméride, Leão XIV afirmou que "a verdadeira paz exige o abandono corajoso das armas", especialmente as que podem causar "uma catástrofe indescritível".
"No nosso tempo, de crescentes tensões e conflitos globais, Hiroshima e Nagasaki permanecem como "símbolos da memória" que nos exortam a rejeitar a ilusão de segurança baseada na destruição mútua assegurada", insistiu o Papa.
UE sublinha guerra sem vencedores
A União Europeia (UE) defende que uma guerra nuclear nunca deve ser travada e não tem vencedores, denunciando ainda a retórica irresponsável em redor deste armamento.
"Enfrentamos hoje uma tendência profundamente preocupante: uma retórica nuclear irresponsável, a expansão opaca dos arsenais nucleares e novos atores que procuram obter capacidades nucleares. Estes desenvolvimentos põem em perigo a paz e a segurança internacionais - e minam de forma flagrante a verdade fundamental que todos afirmámos: uma guerra nuclear não pode ser ganha e nunca deve ser travada", sublinha a chefe da diplomacia da UE, Kaja Kallas, em comunicado.
A alta-representante para a Política Externa e de Defesa da UE salientou também o dever de ser transmitida às gerações futuras a memória das cidades japonesas de Hiroshima, bombardeada pelos Estados Unidos em 6 de agosto de 1945, e Nagasaki, em 9 de agosto de 1945, conduzindo à rendição do Japão e ao fim da II Guerra Mundial.
"Temos o dever para com as vítimas de assegurar que este legado sirva de base para a paz", referiu ainda Kallas, acrescentando que "o desarmamento e a não-proliferação não são opcionais - são uma responsabilidade coletiva".
Japão rejeita partilha de armas nucleares com EUA
O primeiro-ministro do Japão, Shigeru Ishiba, rejeitou hoje a possibilidade de o país partilhar armas nucleares dos Estados Unidos e reafirmou a vontade do Executivo japonês de respeitar os "três princípios não nucleares ".
"Houve alguma confusão sobre se partilhar armas nucleares significa possuí-las, mas não considero nenhuma dessas opções com base nos três princípios não nucleares", disse Ishiba.
O primeiro-ministro japonês defendeu, no entanto, a necessidade do Japão "estudar" um "fortalecimento da credibilidade da dissuasão nuclear", numa referência ao escudo nuclear norte-americano que protege o país asiático.
Desde 1967, o Japão segue os "três princípios não nucleares", que consistem em não produzir, não possuir e não permitir armas nucleares em seu território.
O ataque atómico dos Estados Unidos a Hiroshima destruiu instantaneamente a cidade e matou dezenas de milhares de pessoas perto da zona de impacto, cerca de 10 quilómetros a norte de Ninoshima. O número de mortos até ao final desse ano foi de 140 mil. Em Nagasaki, bombardeada três dias depois, o número de mortes ultrapassou os 70 mil.
Os dois bombardeamentos norte-americanos levaram à rendição do Japão e ao fim da Segunda Guerra Mundial.