O Papa Francisco lamentou, este domingo, a morte de duas mulheres numa paróquia católica, a paróquia da Sagrada Família, na Faixa de Gaza, onde "civis indefesos" são alvo de tiros e bombardeamentos.
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"Continuo a receber notícias muito graves e dolorosas de Gaza. Civis desarmados são alvos e isso tem acontecido até no complexo paroquial da Sagrada Família onde não há terroristas, mas sim famílias, crianças, doentes, pessoas com deficiência e freiras", lamentou o pontífice após o Angelus da janela do Palácio Apostólico.
No dia em que completa 87 anos, Francisco denunciou o assassinato de uma mãe e da filha, cujos nomes pronunciou publicamente, "enquanto iam à casa de banho, uma situação que terá ocorrido no sábado.
Sem referir a autoria do ataque, Francisco referia-se a um ataque das forças israelitas àquela paróquia cristã na Faixa de Gaza, apontando que um lançador de foguetes estava escondido no seu interior, como descreve o portal de notícias oficial multilíngue do Vaticano. "A casa das freiras de Madre Teresa foi danificada, o seu gerador foi atingido. Há quem diga que é terrorismo. Rezemos ao Senhor pela paz", disse Francisco diante de centenas de fiéis que o ouviam na Praça de São Pedro.
O papa argentino acrescentou nas orações o povo ucraniano e alargou os apelos a outras zonas de conflito. "Não esqueçamos os nossos irmãos e irmãs que sofrem com a guerra na Ucrânia, Palestina, Israel e outras zonas de conflito. Que a proximidade do Natal reforce o compromisso de abrir caminhos para a paz", pediu.
Deputada britânica alerta para pressão bélica sobre igreja católica
A deputada liberal-democrata britânica Layla Moran denunciou a contínua pressão que as forças israelitas estão a exercer sobre a Igreja Católica de Gaza, na qual se refugiam centenas de pessoas, entre as quais membros da sua família.
Moran, que está há dias a alertar para a situação, afirmou na rede social X (anterior Twitter) que um tanque se "posicionou" fora igreja e que o edifício da frente foi tomado. "E as pessoas que estavam lá dentro morreram", disse. "Há francoatiradores em cada janela, a apontar para a igreja. Disparam a qualquer um que saia dos edifícios para usar, por exemplo, os balneários. Não há água, nem comida", escreveu a parlamentar britânica.
Moran revelou que, tal como o resto dos civis refugiados, entre os quais se encontram muitas pessoas incapacitadas, os seus familiares estão "a dias de morrer", sem acesso sequer a eletricidade.
Pelo menos 36 pessoas mortas durante a madrugada
Pelo menos 36 pessoas morreram durante a madrugada em bombardeamentos israelitas nos campos de refugiados de Jabalia, no norte da Faixa de Gaza, e em Deir al Balah, no centro, informou a agência oficial palestiniana Wafa. "Os bombardeamentos tiveram como objetivo casas civis, segundo testemunhas locais", noticiou a Wafa, ao 72.º segundo dia de guerra entre Israel e o movimento islamita Hamas.
As equipas de emergência resgataram os corpos de pelo menos 24 pessoas em Jabalia, que foi um dos locais onde se centraram os combates nas últimas semanas. Quase 100 pessoas ficaram feridas e ainda há dezenas debaixo dos escombros.
No campo de refugiados de Deir al Balah, onde milhares de pessoas procuraram refúgio depois de terem de sair do norte, morreram pelo menos 12 palestinianos, de acordo com os serviços de emergência citados pela Wafa.
No sul, na cidade de Jan Yunis - outro dos bastiões do Hamas e centro dos combates - a artilharia israelita disparou um míssil, que não chegou a explodir, para o hospital Nasser, que alberga centenas de feridos e deslocados.
As forças navais israelitas atacaram várias zonas a norte da província de Jan Yunis e da sua costa ocidental, indicou a Wafa.
Durante a noite também ocorreram bombardeamentos aéreos sobre o bairro de Al Jenena, em Rafah, no extremo meridional da Faixa, declarada por Israel como "zona humanitária", alegadamente segura, onde se concentra mais de um milhão de pessoas que fugiram dos combates noutros pontos do enclave.
Londres e Berlim pedem "cessar-fogo sustentável"
O ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, David Cameron, pediu um "cessar-fogo sustentável" em Gaza e que se trabalhe por uma paz duradoura entre Israel e a Palestina num artigo com a homóloga alemã, publicado no "The Sunday Times".
O apelo a um cessar-fogo, mas "apenas se for sustentável", significa uma mudança de tom por parte do Governo britânico, que até agora defendia "pausas humanitárias" ocasionais para permitir a entrada de ajuda em Gaza.
No texto, David Cameron e a chefe da diplomacia alemã, Annalena Baerbock, esclarecem que, apesar de representarem "tradições políticas muito diferentes" - ele é conservador e ela é verde - partilham o desejo de melhorar as coisas e "a ânsia de paz, no Médio Oriente como noutras partes do mundo". Ao contrário de outros, não acreditam que "apelar agora a um cessar-fogo geral e imediato, na esperança de que este se torne permanente, seja o caminho a seguir".
Isso ignoraria o facto de "Israel ter sido forçada a defender-se após o ataque" do Hamas em 7 de outubro e de o grupo islamista "continuar a disparar mísseis para matar cidadãos israelitas todos os dias". "O Hamas tem de depor as armas", afirmam. "Um cessar-fogo insustentável, que rapidamente conduziria a mais violência, só tornaria mais difícil a construção da confiança necessária para a paz", defendem.
Os dois políticos afirmam que "só os extremistas como o Hamas" querem continuar "presos num ciclo interminável de violência, sacrificando os seus próprios interesses". Insistem que o objetivo "não pode ser simplesmente o fim dos combates atuais", mas "deve ser uma paz que dure dias, anos e gerações". "Por isso, apoiamos um cessar-fogo, mas apenas se for sustentável", acrescentam.
Os ministros apelam ao Hamas para que liberte imediatamente os reféns e avisam que deixá-los em Gaza "seria um obstáculo permanente no caminho para uma solução de dois Estados (israelita e palestiniano)".
Cameron e Baerbock destacam três áreas de ação: em primeiro lugar, reconhecem o direito de Israel a defender-se, mas apelam para que, "ao fazê-lo, respeite o direito humanitário internacional", porque "já foram mortos demasiados civis". Em segundo lugar, "deve ser prestada mais ajuda aos palestinianos" e, por último, a comunidade internacional, e em particular os países árabes, devem trabalhar para uma solução que "proporcione segurança a longo prazo aos dois povos". Neste sentido, apelam ao fim da violência dos "colonos extremistas na Cisjordânia", que "tentam sabotar esses esforços", enquanto, na sua opinião, os palestinianos precisam de uma equipa de líderes que lhes ofereça "o governo que merecem".
Paris apela a "nova trégua imediata e duradoura"
A ministra dos Negócios Estrangeiros francesa apelou, assim que chegou a Israel, a "novas tréguas imediatas e duradouras" na Faixa de Gaza, enquanto o homólogo israelita qualificou de "erro" qualquer apelo a um cessar-fogo.
Paris está "profundamente preocupada" com a situação em Gaza e apela a uma "nova trégua imediata e duradoura", declarou Catherine Colonna depois de um encontro com Eli Cohen. "Demasiados civis estão a ser mortos", acrescentou em declarações aos jornalistas.
Por outro lado, Eli Cohen insistiu na posição do Governo israelita, segundo a qual o apelo a um cessar-fogo é um "erro" e uma "prenda para o Hamas", o movimento islamita que governa Gaza e que lançou um ataque sem precedentes contra Israel em 7 de outubro.
Ao mesmo tempo, Catherine Colonna apelou para que não se esqueçam as vítimas israelitas dos ataques do Hamas. "Escusado será dizer que a França acredita nas palavras destas mulheres vítimas, que a França acredita naqueles que testemunharam estas violações e mutilações, estas profanações", declarou, referindo-se às atrocidades cometidas pelos comandos do movimento palestiniano em Israel.