O papa Francisco considerou, este sábado, no encerramento da romaria ao Canadá, que os internatos de crianças índias foram "um genocídio" e admitiu, em declarações à imprensa, que não pode mais viajar a este ritmo, devido a problemas de saúde, que o fazem ponderar "colocar-se de lado" e renunciar. "Não é um desastre", afirmou.
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Em conferência de imprensa, a bordo do avião na viagem de volta a Roma, depois de seis dias de visita ao Canadá, onde pediu perdão às populações nativas americanas, Francisco considerou que os internatos compulsivos de crianças índias no Canadá, geridos sobretudo pela Igreja Católica, equivaleram a um "genocídio".
"Não disse a palavra [durante a viagem] porque não me veio à mente, mas descrevi o genocídio. E pedi desculpas, pedi perdão por esse processo que é genocídio", disse o papa. "O que sucedeu foi raptar crianças, mudar a cultura, mudar a mentalidade, mudar as tradições, mudar uma raça, digamos assim, toda uma cultura", acrescentou o soberano pontífice argentino em referência aos internatos para crianças indígenas (Primeiras Nações, Métis e Inuit) estabelecidos no Canadá entre o final do século XIX e a década de 1990. "Sim, genocídio, é uma palavra técnica. Não usei porque não me ocorreu. Mas descrevi o que, é verdade, é genocídio", insistiu.
Acometido por fortes dores num joelho, que o obrigaram a deslocar-se numa cadeira de rodas, o papa Francisco disse aos jornalistas que "não podia mais viajar" ao mesmo ritmo de antes, mencionando também a possibilidade de "colocar-se de lado".
"PORTA ABERTA"
"Não acredito que possa manter o mesmo ritmo de viagem de antes. Acredito que na minha idade e com esses limites devo poupar-me, para poder servir a Igreja, ou, pelo contrário, pensar na possibilidade de me colocar de lado", disse.
O sumo pontífice considerou que a possibilidade de renunciar, tal como o antecessor Bento XVI, "não é um desastre" e repetiu que a porta estava "aberta".
"Mas até hoje eu não empurrei essa porta. Como dizem, eu não senti isso, para pensar nessa possibilidade. Mas isso não significa que depois de amanhã eu não vou começar a pensar nisso", disse.
Durante esta visita de seis dias, o papa, de 85 anos, apareceu enfraquecido, mas mesmo assim cumprimentou a multidão a bordo do "papamóvel".
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Doutrina da descoberta
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