O Papa Francisco não tem medo de dizer o que pensa mesmo que isso lhe valha críticas ferozes dentro da Igreja.
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Desde que iniciou o pontificado há dez anos, já se mostrou disponível para rever o celibato dos padres, papel da mulher na hierarquia católica, o aborto e a homossexualidade. Falou com os jovens sobre a "beleza do sexo" e pediu aos padres para receber os divorciados e os recasados.
Sexo e masturbação
"O sexo é uma das coisas belas que Deus deu aos seres humanos", disse o Papa durante o documentário "Amém". O Papa Francisco disse aos jovens que o sexo é um dos "belos dons de Deus" dados ao ser humano, num documentário a transmitir no canal Disney+, noticiou o "L'Osservatore Romano", o jornal diário da Cidade do Vaticano.
"A expressão sexual é uma riqueza, então qualquer coisa que menospreze a verdadeira expressão sexual também o menospreza a si e empobrece essa riqueza", continuou referindo-se à masturbação.
Mulheres
Desde que se tornou papa, Francisco nomeou várias mulheres para cargos administrativos e disse, no ano passado, que "sempre que uma mulher recebe um cargo (de responsabilidade) no Vaticano, as coisas melhoram". Classificando como "uma grave injustiça" a disparidade salarial entre homens e mulheres, o Papa frisou várias vezes que se vive uma "cultura patriarcal e machista de opressão".
Porém, Francisco nunca defendeu publicamente que as mulheres possam ser ordenadas sacerdotes.
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Recasados
"É importante que os divorciados que vivem uma nova união sintam que fazem parte da Igreja, que 'não estão excomungados', e não são tratados como tal, porque sempre integram a comunhão eclesiástica", defendeu Francisco numa entrevista ao semanário católico belga Tertio. O papel dos "recasados" na Igreja é quase fraturante entre os católicos mais tradicionalistas.
Na exortação "A Alegria no Amor", publicada em 2016, o Papa indica "o caminho do discernimento", ou seja, um padre deve identificar caso a caso "as situações irregulares", como um casal de divorciados recasados, para que sejam readmitidos nos sacramentos.
"É importante que os divorciados que vivem uma nova união sintam que fazem parte da Igreja, que 'não estão excomungados', e não são tratados como tal, porque sempre integram a comunhão eclesiástica", defendeu Francisco.
Celibato
O Papa Francisco manifestou-se, em março deste ano, disponível para rever o celibato no seio da Igreja Católica, por ser uma "receita temporária" da igreja ocidental. "Não há nenhuma contradição em que um padre se possa casar. O celibato na Igreja ocidental é uma prescrição temporária: Não sei se se resolve de uma forma ou de outra, mas é provisório nesse sentido", disse o Papa Francisco.
Questionado sobre se a questão do celibato "poderia ser revista", Francisco respondeu "sim, sim", acrescentando que muitos dos membros da Igreja do oriente, aqueles que o desejem, "são casados".
"Na Igreja Católica há sacerdotes casados: Todo o rito oriental é casado. Todo. Aqui na Cúria temos um - hoje deparei-me com ele - que tem a sua esposa, o seu filho", revelou Francisco.
Homossexualidade
"Se uma pessoa é gay e procura Jesus, e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la? O catecismo diz que não se deve marginalizar essas pessoas, devem ser integradas na sociedade. Devemos ser irmãos", disse Francisco.
Em 2020, no documentário "Francesco", do cineasta Evgeny Afineevsky, o papa voltou a falar sobre o tema: "os homossexuais têm direito a estar em família, são filhos de Deus. Não se pode expulsar uma pessoa da sua família ou tornar-lhe a vida impossível. O que temos que fazer é uma lei de convivência civil, para serem protegidos legalmente".
Em março de 2021, o próprio Vaticano divulgou um comunicado reiterando que "a Igreja não dispõe, nem pode dispor, do poder de abençoar uniões de pessoas do mesmo sexo".
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Aborto
Na exortação Evangelii Gaudim, o Papa enfatizou a sua postura firmemente contra o aborto, ressaltando que "não se deve esperar que a Igreja altere a sua posição sobre esta questão" e que "não é um assunto sujeito a supostas reformas". Contudo, em 2016, num gesto inédito, publicou uma carta autorizando os sacerdotes a absolver "de agora em diante" as pessoas "que tenham cometido o pecado do aborto".
Abusos sexuais
A marca do Papa Francisco pode ser a luta contra os abusos sexuais na Igreja Católica. Foi ele que iniciou o fim da "ocultação", afirmando que a igreja "não se cansará de fazer tudo o que for necessário" para levar à justiça quem quer que tenha cometido algum tipo de abuso sexual.
"Nenhum abuso deve jamais ser encoberto e subestimado, pois a cobertura dos abusos favorece a propagação do mal e eleva o nível do escândalo", afirmou.