As paramilitares Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) apoderaram-se esta segunda-feira do quartel-general da polícia e do seu arsenal, em Cartum, e rebeldes investiram contra o exército sudanês na fronteira com a Etiópia, no sul.
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No domingo à noite, após dois meses e meio de guerra contra o exército liderado pelo general Abdel Fattah al-Burhan, as RSF do general Mohamed Hamdane Daglo anunciaram num comunicado a "vitória na batalha pelo quartel-general da polícia".
Hoje de manhã, os habitantes de Kurmuk, na fronteira com a Etiópia, disseram que um grupo rebelde tinha lançado um ataque contra o exército.
Este mesmo grupo já tinha aberto uma nova frente na quinta-feira no Cordofão do Sul, na fronteira com o Sudão do Sul, obrigando o exército a responder em diferentes frentes, todas no sul.
No entanto, conforme disse um antigo oficial do exército, sob condição de anonimato, a tomada do quartel-general da polícia - no extremo sul da capital - mudou radicalmente a situação.
"Estamos no controlo total deste quartel-general (...) e apoderámo-nos de um grande número de veículos, armas e munições", afirmam as RSF, enumerando as dezenas de 'pickups', veículos blindados e tanques de que se apoderaram.
A tomada do quartel-general da polícia, se não for revertida, "terá um impacto importante na batalha de Cartum", disse o oficial, uma vez que "garante o controlo da entrada sul da capital" às RSF.
A presença de paramilitares nesta zona constitui também "uma séria ameaça para o quartel-general do corpo blindado mecanizado", um dos principais trunfos do exército no sul de Cartum, continuou o antigo oficial.
"Não se trata de uma vitória militar (...) mas de um ataque flagrante às instituições do Estado que protegem os civis", respondeu o exército às RSF.
No domingo, "14 civis, incluindo duas crianças, foram mortos" nos arredores do quartel-general da polícia, segundo uma rede de ativistas que tenta organizar operações de salvamento e transporte para os poucos hospitais ainda em funcionamento na zona.
Além disso, "chegaram 217 feridos, 72 dos quais em estado grave, e 147 foram operados" depois de terem sido atingidos por "balas perdidas, ataques aéreos ou fogo cruzado de 'rockets'" no coração de bairros residenciais, prossegue este comité de ativistas.
Mesmo que as RSF percam o quartel-general da polícia, os vídeos difundidos pela sua propaganda mostram os seus homens a apoderarem-se de grandes 'stocks' de armas e munições - a garantia de que poderão continuar a guerra de desgaste lançada em 15 de abril durante muito tempo.
Desde então, as forças paramilitares nunca anunciaram as suas perdas. Mas, segundo uma fonte do exército, perderam "mais de 400 homens" na tomada deste quartel-general.
A organização não-governamental Acled contabilizou mais de 2800 mortos na guerra do Sudão, um número largamente subestimado, porque nenhum dos beligerantes tornou públicas as suas perdas e muitos corpos continuam a cobrir as ruas de Cartum ou de Darfur, a vasta região ocidental que faz fronteira com o Chade, onde os confrontos são mais violentos.