Nova presidente da Assembleia da República moçambicana pediu, esta segunda-feira, diálogo para lidar com as manifestações pós-eleitorais. Mesmo com apelos do candidato presidencial Venâncio Mondlane, partido Podemos assume cadeiras no órgão legislador e conforma-se com a situação.
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A nova composição da Assembleia da República moçambicana tomou posse esta segunda-feira, elegendo Margarida Talapa como presidente do órgão legislador. O início da legislatura resultante das eleições de 9 de outubro ficou marcada por boicotes da Oposição, com exceção do Podemos, apesar dos pedidos do candidato Venâncio Mondlane. Nas ruas, bloqueios com pneus a arder e a intervenção policial marcaram a antevéspera da chegada de Daniel Chapo à presidência.
Talapa, da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), foi eleita com 169 votos e defendeu um Parlamento “dialogante e inclusivo”. “Vamos ter de optar por um sistema de inclusão participativa, onde todos os deputados, independentemente das suas cores políticas, estejam unidos em torno daquilo que são as aspirações dos moçambicanos”, disse a nova presidente da Assembleia da República.
Um total de 210 dos 250 deputados estiveram presentes na posse parlamentar. Até então o maior partido opositor, a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo, 28 deputados) boicotou a cerimónia, assim como o Movimento Democrático de Moçambique (MDM, oito). Ambos recusam reconhecer os resultados eleitorais que confirmaram a manutenção da Frelimo no poder – situação que em 2025 completa 50 anos.
Quatro legisladores do Partido Otimista pelo Desenvolvimento de Moçambique (Podemos) não participaram no evento também. Anteriormente sem representação parlamentar, o Podemos conquistou 43 assentos. O presidente do partido, Albino Forquilha, citado pela agência Lusa, afirmou que a força política é “soberana” em relação à decisão de os seus deputados tomarem posse. “Há irrecorribilidade dos resultados e estamos conformados com a ordem constitucional. A luta passa para outra etapa que é discutir os assuntos no Parlamento, por isso achamos que é importante tomar posse”, esclareceu.
A medida pela liderança do Podemos contraria o seu candidato presidencial, Venâncio Mondlane. O opositor apelou ao boicote pelos partidários, assim como três dias de paralisação no país, iniciada esta segunda-feira, e “manifestações pacíficas” durante a cerimónia no Parlamento.
Barricadas e confrontos
A segunda-feira ficou marcada por diversos confrontos em Maputo. No mercado de Xiquelene, a Polícia fez vários disparos e lançou gás lacrimogéneo para a multidão que ali se manifestava, descreve a Lusa, de forma pacífica, apesar das barricadas na estrada.
“Todo o mundo aqui saiu com o intuito de vir vender e não fazer manifestação, mas o que acontece é que a polícia da UIR [Unidade de Intervenção Rápida] chegou aqui e começou a disparar. Levou alguns jovens, meteu dentro do carro e começou a bater. A nossa pergunta é: O que nós fizemos hoje”, indagou Glória Langa, vendedora no local, ouvida pela mesma agência.
Na avenida Acordos de Lusaka, as forças de segurança tentavam, sem sucesso, dispersar os revoltosos que bloquearam a via com pneus a arder, contentores de lixo virados, pedras, vidros e paus.