As eleições do próximo domingo na Catalunha, poderão causar uma reviravolta no mapa político daquela região de Espanha. De acordo com as sondagens mais recentes, os partidos “espanhóis” poderão ter, pela primeira vez desde 1980, uma maioria de deputados no Parlamento regional.
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Salvador Illa, o líder do Partido Socialista da Catalunha (o braço regional do PSOE), é o claro favorito a vencer as eleições de 12 de maio. Aliás, os socialistas já foram os mais votados nas regionais de 2021. Mas a possibilidade de liderar o Governo regional é escassa. Teria de juntar numa coligação, para além do seu atual sócio no Governo em Madrid, o Sumar (na Catalunha concorre com a designação Comuns), o que parece provável, os independentistas da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), o que parece quase impossível.
Numa sondagem publicada no jornal “El País”, os socialistas aparecem com 28% das intenções de voto e poderiam eleger 40 deputados. Somados os eleitos dos restantes partidos “espanhóis” (ou seja, partidos que não defendem a independência), poderiam chegar aos 68, ou seja, a uma maioria parlamentar (no total são eleitos 135 deputados). O Partido Popular, de centro-direita, teria 10% (e 13 eleitos), o Vox, representante da direita radical, chegaria aos 7% (10 eleitos) e o Sumar/Comuns, que se situa à esquerda dos socialistas, teria 5% (cinco eleitos).
Maioria independentista
É preciso recuar às primeiras eleições regionais, em 1980, para encontrar um Parlamento em que os partidos catalães (ou seja, movimentos políticos sem qualquer ligação aos partidos de Espanha) não tenham uma maioria de deputados: nessas primeiras eleições regionais após o fim da ditadura de Franco, as forças políticas catalãs elegeram 57 deputados. E o maior partido foi sempre a Convergência e União (na verdade uma federação de movimentos nacionalistas catalães de centro-direita e democratas-cristãos), até à sua dissolução, em 2015.
Acresce que precisamente desde as eleições de 2015 se repete uma maioria de deputados no Parlamento que não se limitam a defender a autonomia da Catalunha, mas que são assumidamente independentistas. Umas vezes com a preponderância a cair para os independentistas de centro-direita (Juntos pela Catalunha), outra para os de centro-esquerda (ERC), mas sempre coligados na solução de Governo.
Puigdemont de regresso
Para estas eleições de 2024, e entre o bloco de forças independentistas, o cabeça de cartaz é, de novo, Carles Puigdemont, que se exilou em Bruxelas em 2017 (depois do fracasso do referendo unilateral de independência e do processo judicial que se seguiu) e só regressará à Catalunha se conseguir os votos suficientes para liderar o próximo Governo regional.
Ao Juntos pela Catalunha é apontado na sondagem um resultado de cerca de 22% (o que lhe daria 36 deputados), enquanto a Esquerda Republicana da Catalunha, que lidera o Executivo atual, marca apenas 17% (26 eleitos). Mesmo com a soma da esquerda radical da CUP (quatro eleitos) e dos estreantes da Aliança Catalã (um eleito), este bloco somaria 67 deputados, menos um do que os 68 que asseguraram uma maioria parlamentar.
A julgar por uma outra sondagem, esta para o El Periodico da Catalunha, o bloco de partidos independentistas até terá ainda a hipótese de continuar a ter uma “bancada” mais numerosa dos que a bancada “espanhola”. Mas isso só acontecerá porque se prevê que a Aliança Catalã poderá eleger três deputados. Problema: é um partido de direita radical, com um discurso político muito centrado no ataque à imigração magrebina, com o qual os restantes partidos independentistas rejeitam negociar uma solução de Governo.
Esquerda e Direita
A mais provável coligação de partidos “espanhóis” e catalães, próximos na ideologia, mesmo que separados pela questão da independência, seria uma espécie de reedição do chamado “Tripartito”, que governou a Catalunha entre 2003 e 2010, por impulso do socialista Pasqual Maragall, que tinha sido presidente da Câmara de Barcelona, e a que se somou a Iniciativa pela Catalunha (uma espécie de ramo regional da Esquerda Unida, que por sua vez foi uma espécie de sucessora do Partido Comunista de Espanha) e a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC). Mas, nessa altura, ainda não tinha havido o referendo que, em 2017, levou para a cadeia vários dirigentes da ERC, incluindo o seu líder Oriol Junqueras.
Uma hipotética aliança mais à Direita entre partidos “espanhóis” e catalães é inverosímil. É certo que o Partido Popular (centro-direita) tem várias alianças em governos regionais de Espanha com o Vox (direita radical), mas o centro-direita catalão representado por Carles Puigdemont é o pior dos inimigos dos nacionalistas espanhóis. Ao antigo presidente do Governo catalão só será possível regressar a casa e a uma eventual liderança da Generalidade porque os socialistas de Pedro Sánchez avançaram com uma lei de amnistia nas Cortes espanholas. Os principais adversários dessa amnistia foram o PP e o Vox.