Paula e os filhos fugiram para os EUA mas foram deportados. Como é de origem portuguesa, ofereceram-lhe a opção lusa. Aceitou e vive em Arcos de Valdevez.
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Paula Gonçalves, filha de madeirenses, trabalhava há já 21 anos numa padaria em Caracas. O marido, venezuelano, era cozinheiro de profissão. Viviam como podiam, com os dois filhos, uma rapariga de 11 anos e um rapaz de 16. Até que não foi mais possível. Fugiram da Venezuela, como mais de três milhões de pessoas, à procura de paz, de uma vida melhor e em que o dinheiro chegue, pelo menos, para fazer as refeições e pagar as contas.
Em março de 2018, Paula procurou na Florida (EUA), junto do irmão que já lá estava, o refúgio de que precisava e levou os filhos consigo. Em novembro foi descoberta pela Polícia e, como estava ilegal, foi obrigada a permanecer mais de três semanas numa casa de acolhimento, enquanto o seu futuro era decidido.
Como tinha dupla nacionalidade e entrara nos EUA com passaporte português, perguntaram-lhe se preferia voltar à Venezuela ou optar por Portugal.
"Sem pensar, vim para Portugal com os meus filhos. Pedi ajuda a um amigo e vim", conta Paula, que chegou sem nada a uma terra de que quase nada sabia. Instalou-se em Arcos de Valdevez no início de dezembro e contou com o apoio do presidente de Junta da Freguesia de Padreiro, que a ajudou a tratar de todas as documentações necessárias para começar uma nova vida, mas também da autarquia, através do Gabinete de Apoio ao Emigrante.
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Saltava refeições
"Na Venezuela já não podíamos fazer três refeições por dia. Se tomássemos o pequeno-almoço, depois já só podíamos almoçar ou jantar. Não dava para tudo. E, como eu trabalhava numa padaria, ainda levava pão para casa. Mas, além do problema das refeições, eu pensava muito na segurança dos meus filhos", explica Paula, com a certeza de que em Portugal tudo é bem diferente.
O marido, José Silva, juntou-se à família em janeiro. Descreve o estado do país que o viu nascer como "horrível" e numa "situação muito difícil".
"Desde que cheguei que tem havido muita gente amiga a ajudar-nos. Dão-nos batatas, cebolas, roupas, cobertores. Aos poucos vamos melhorando a nossa vida", conta Paula, que já encontrou emprego numa fábrica em Ponte de Lima. O marido trabalha num café e os filhos já estão na escola.
Para já, a família vive num T1 arrendado e só espera que a vida daqui para a frente possa melhorar.
Relatos de violência
Na memória estão sempre os casos de violência vividos na Venezuela e o filho de Paula conta com tristeza como alguns jovens estão a morrer vítimas de tiroteios e sem receberem assistência médica.
Questionada sobre se gostaria de voltar ao país onde nasceu, Paula diz que não pensa nisso e que acredita que Portugal é o melhor sítio para os filhos crescerem e estudar.
Com toda a família ainda na Venezuela, só teme pela vida deles e não acredita que o país possa melhorar rapidamente, mesmo que a atual crise política seja solucionada. "Gostava que a minha família viesse toda para Portugal, mas eles sabem que logo que possa, eu vou ajudá-los enviando dinheiro".