O cessar-fogo permitiu, este sábado, o envio de tropas de Damasco à cidade no Sul do país, onde confronto entre drusos e beduínos continua.
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Com o terceiro anúncio de trégua numa semana, agora entre Síria e Israel, Telavive permitiu que as forças de Damasco regressassem à província de Sweida, no Sul sírio. O acordo, mediado pelos Estados Unidos, visa acabar com os confrontos entre milícias armadas drusas, grupo etnorreligioso protegido pelos israelitas, e beduínos – mas a realidade no terreno causa dúvidas.
O cessar-fogo foi anunciado nas primeiras horas deste sábado por Washington, que tenta normalizar as relações entre Israel e a Síria e, nesta semana, expressou desaprovação aos bombardeamentos hebraicos a Damasco. “Apelamos aos drusos, beduínos e sunitas para que deponham as armas e, juntamente com outras minorias, construam uma nova e unida identidade síria em paz e prosperidade com os seus vizinhos”, escreveu o enviado especial dos EUA, Tom Barrack.
O presidente sírio, Ahmed al-Sharaa, apelou ao respeito de “todas as partes” ao “cessar-fogo imediato” e prometeu proteger “todas as minorias e comunidades no país”. Apesar do ceticismo de Israel, as forças sírias islamitas puderam regressar a Sweida, “com o objetivo de proteger os civis e pôr um fim ao caos”.
Segundo uma porta-voz do Ministério do Interior, ouvida pela agência France-Presse (AFP), Damasco esperava “supervisionar a retirada das tribos que estavam em batalha com grupos ilegais”, numa referência às milícias drusas. Os esforços das forças governamentais parecem, por enquanto, em vão.
Incentivo ao massacre
“Avancem, tribos!”, afirmou o combatente Abu Jassem, que luta contra os drusos numa Sweida de ruas desertas. “Vamos massacrá-los nas suas casas”, declarou o guerreiro, pertencente a uma das diversas tribos que se deslocaram para auxiliar os beduínos. Tal grupo de agricultores nómadas sunitas são rivais dos drusos, que professam uma religião que se separou do Islão xiita e estão presentes principalmente na Síria, em Israel e no Líbano.
Já são cerca de 87 mil deslocados na região, segundo a ONU, onde não há abastecimento de água ou eletricidade. Os confrontos entre drusos, beduínos e militares sírios, iniciados há uma semana, deixaram pelo menos 940 mortos, incluindo 80 civis, indicou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos. “Não nos resta mais nada”, disse uma pessoa deslocada à AFP. “A maioria das pessoas que conhecemos – familiares e amigos – estão mortas”, lamentou.