O Ministério do Comércio da China publicou documentos acessíveis apenas por software nacional, num novo sinal da aposta na autossuficiência tecnológica, em plena escalada da guerra comercial com os Estados Unidos.
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As comunicações, emitidas na semana passada e relativas à ampliação dos controlos à exportação de terras raras, não puderam ser abertas com software norte-americano como o Microsoft Word, mas apenas com o WPS Office - programa desenvolvido pela tecnológica chinesa Kingsoft, sediada em Pequim.
Até agora, o ministério divulgava os seus documentos sobretudo em formatos compatíveis com o pacote Microsoft Office.
A mudança surge num contexto em que Washington tem reforçado o uso do seu poder tecnológico como instrumento de pressão na rivalidade com a China.
Após o anúncio dos novos controlos, o presidente norte-americano, Donald Trump, ameaçou restringir a exportação de "qualquer "software" crítico" para a China.
Nos últimos anos, as autoridades chinesas intensificaram as políticas de substituição de tecnologia estrangeira por alternativas domésticas, especialmente em instituições públicas, empresas estatais, universidades e setores considerados estratégicos.
A aposta em sistemas locais permitiu a Pequim minimizar o impacto de uma falha global do Windows, em julho de 2024, provocada por uma atualização defeituosa da empresa de cibersegurança norte-americana CrowdStrike.
Vários serviços essenciais - de companhias aéreas a bancos - já tinham reduzido a utilização de "software" estrangeiro.
Em 2022, a Comissão de Supervisão e Administração dos Ativos Estatais da China determinou que todas as empresas públicas deviam adotar exclusivamente "software" nacional nas operações e funções administrativas até 2027.
O WPS Office é atualmente o principal "software" de processamento de texto desenvolvido na China, enquanto empresas como NetEase, Tencent, Huawei e Alibaba competem no fornecimento de soluções de correio eletrónico e serviços de "cloud".
Nos últimos anos, várias empresas estrangeiras com forte presença anterior na China, como a Adobe ou a Cloud Software, retiraram-se do mercado chinês ou reduziram substancialmente a sua atividade.
No início de 2025, a Microsoft encerrou o seu centro de investigação em inteligência artificial em Xangai, depois de ter fechado todas as lojas físicas na China continental em 2024.