Mais de 400 pessoas, entre as quais crianças, estão retidas na fronteira entre o Peru e o Brasil. Motivadas pelo desemprego, medo da pandemia no território brasileiro e pela dengue, uma doença infecciosa causada por um vírus com maior incidência no verão, tentam escapar através da Ponte Internacional da Amizade que une os dois países. O exército e a polícia peruana receberam os imigrantes com golpes e empurrões.
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Entre os que tentam a travessia, estão haitianos e venezuelanos que querem deixar o Brasil, país recordista na América Latina em casos de covid-19. Em comunicado, a embaixada do Peru no Brasil informou que o país está com as fronteiras fechadas para evitar a propagação da doença. Os imigrantes aguardam no município de Assis, no Estado do Acre, a última cidade do lado brasileiro da fronteira, que esta situação se altere..
"A situação em Assis é caótica, dramática, nós estamos a reviver o que aconteceu em 2020, com esta crise migratória. Isto está a agravar-se", disse o presidente da câmara de Assis, Jerry Correia. Recorde-se que a fronteira está fechada desde março de 2020, altura em que os imigrantes, sem conseguirem sair do Brasil, foram alojados em abrigos e a cidade decretou estado de emergência.
O político afirma ainda que os imigrantes são os mesmos que vieram para o Brasil após o terremoto de 2010 no Haiti, que resultou em 300 mil mortes e um milhão e meio de desalojados, mas que agora tentam sair do território por estarem a perder os empregos devido à pandemia.
"As autoridades peruanas estão sensíveis à situação. Há uma possibilidade de permitirem a passagem. O governador de Madre de Deus está a tentar conseguir uma autorização do governo federal peruano. Vão fazer uma triagem no grupo de imigrantes, testá-los à covid-19, mas a crise vai além disso. Mesmo que as autoridades permitam a passagem dos imigrantes, amanhã, depois, teremos novamente esta situação aqui no município de Assis", explicou Correia.
A câmara confirma ainda que está a ser dada assistência aos imigrantes. "Levamos alimentação, água e montamos tendas para que as pessoas não fiquem à chuva, uma vez que estão dispostas a permanecer na ponte o tempo que for necessário até entrarem no Peru", afirmam.
Segundo o "El País", as mulheres e as crianças foram as mais afetadas pela repressão das forças da ordem no distrito de Iñapari, uma localidade peruana na região de Madre de Deus.
O Monsenhor Martínez de Aguirre, um responsável religioso da região, pediu ao Ministério das Relações Exteriores peruano que entre em contacto com as autoridades do Equador e do Brasil ou, em alternativa, que seja criada uma mesa de diálogo. "É possível estudar soluções usando testes PCR para evitar contágios, que são a principal fonte de medo", disse.