Novas observações com o Telescópio Espacial James Webb deram indicações de que um mundo semelhante à Terra dentro da zona habitável da sua estrela, a 40 anos-luz de distância, pode albergar uma atmosfera.
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TRAPPIST-1 E, o planeta no sistema que orbita o anão rochoso TRAPPIST 1, é de particular interesse porque a presença de água líquida, nem demasiado quente nem demasiado fria, é teoricamente viável, mas apenas se o planeta tiver uma atmosfera.
Os investigadores apontaram o poderoso instrumento NIRSpec (espectrógrafo de infravermelho, Near-Infrared Spectrograph) do Telescópio Espacial James Webb (JWST, na sigla em inglês) para o sistema enquanto o planeta e passava em frente da sua estrela.
A luz estelar que atravessa a atmosfera do planeta, se presente, será parcialmente absorvida, e as reduções correspondentes no espetro de luz que atinge o JWST informam os astrónomos sobre quais as substâncias químicas que aí estão presentes.
Os resultados iniciais, agora publicados em dois artigos científicos no "The Astrophysical Journal Letters", indicaram vários cenários potenciais, incluindo a possibilidade de uma atmosfera, noticiou o Phys.org, citado pela agência Europa Press.
Hannah Wakeford, professora associada de astrofísica na Universidade de Bristol, no Reino Unido, ajudou a conceber a estrutura de observação do telescópio para garantir que os cientistas obtivessem dados fundamentais.
Os instrumentos infravermelhos do JWST fornecem detalhes sem precedentes, ajudando a compreender muito mais sobre os fatores que determinam a atmosfera e o ambiente de superfície de um planeta, bem como a sua composição.
Embora existam várias possibilidades para o planeta 'E', os investigadores estão confiantes de que não retém a sua atmosfera original.
David Grant, coautor de ambos os estudos e antigo investigador sénior da Universidade de Bristol, frisou que "as descobertas também descartam a presença de uma atmosfera primordial baseada no hidrogénio".
"Este é o invólucro gasoso, composto principalmente por hidrogénio, que circundava um planeta nos seus estágios iniciais de formação. Pensa-se que tais atmosferas são comuns tanto em planetas gigantes como terrestres no início do Sistema Solar", apontou.
Wakeford acrescentou que dado que TRAPPIST-1 é uma estrela muito ativa, com erupções frequentes, não é surpreendente que a radiação estelar tenha destruído qualquer atmosfera de hidrogénio e hélio que o planeta possa ter formado.
Muitos planetas, incluindo a Terra, formam uma atmosfera secundária mais densa depois de perderem a sua atmosfera primária. É possível que o planeta 'E' nunca tenha sido capaz de o fazer e não tenha uma atmosfera secundária, mas há uma hipótese igual de que exista uma, acrescentou a cientista.
A presença de uma atmosfera secundária significa que a água líquida também pode existir à superfície e, se for o caso, os investigadores acreditam que seria acompanhada por um efeito de estufa, semelhante ao da Terra, em que vários gases, especialmente o dióxido de carbono, mantêm a atmosfera estável e o planeta aquecido.
O segundo artigo detalha o trabalho de interpretação teórica, e a autora principal, Ana Glidden, investigadora de pós-doutoramento no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos EUA, salientou que "é improvável que a atmosfera do planeta 'E' seja dominada por dióxido de carbono, como a atmosfera espessa de Vénus e a atmosfera rarefeita de Marte".
"No entanto, é importante notar que não existem paralelos diretos com o nosso sistema solar. TRAPPIST-1 é uma estrela muito diferente do nosso Sol, e o sistema planetário que a rodeia também é distinto", vincou.