Dados de satélite evidenciam que a plataforma Conger começou a mover-se entre os dias 5 e 7 deste mês e terá colapsado no dia 15. Especialistas consideram que este tipo de fenómenos tende a repetir-se.
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Uma plataforma de gelo com uma superfície a rondar os 1200 quilómetros quadrados desabou por completo na Antártida Oriental. Ultimamente, as temperaturas têm estado acima do tradicional, quer na Antártida quer no Ártico, situação que terá precipitado o sucedido.
De acordo com o que foi anunciado nesta sexta-feira, a plataforma de gelo Conger desmoronou-se a 15 de março. O movimento iniciou-se entre os dias 5 e 7, mais de uma semana antes.
As temperaturas estão altas como nunca na Antártida: a estação Concordia registou o recorde de -11,8ºC a 18 de março, valor 40 graus acima do normal, para a temporada.
A tendência começou em 2000, com a plataforma de gelo a diminuir gradualmente, até há dois anos. Depois, as diferenças agravaram-se e a 4 de março deste ano a superfície já tinha metade do tamanho, tendo como comparação os dados verificados em janeiro.
Segundo Catherine Colello Walker, cientista da NASA, citada pelo jornal britânico "The Guardian", trata-se de "um dos eventos de colapso mais significativos em qualquer parte da Antártida desde o ano 2000, quando a plataforma de gelo Larsen B se desintegrou".
"Provavelmente não terá efeitos enormes, mas é um sinal do que poderá estar para vir", fez notar.
De referir que as plataformas de gelo são extensões de placas que flutuam sobre o oceano e que assumem papel importante na contenção do gelo terrestre. Sem este apoio, o gelo interior flui mais rapidamente para o oceano, ditando a subida do nível do mar.
Já o investigador Andrew Mackintosh realçou que as plataformas de gelo "perdem massa como parte do próprio comportamento natural". Ainda assim, o colapso "em grande escala", como o que neste caso se verificou, "é um acontecimento muito invulgar".
Para o professor Matt King, que lidera o Australian Center for Excellence in Antarctic Science, a rutura da plataforma Conger terá um "pequeno impacto" no nível do mar, uma vez que o glaciar que tinha por trás era pequeno.
Seja como for, o especialista abordado pelo jornal britânico alerta que vão suceder mais casos idênticos, face ao aquecimento climático. "Veremos grandes plataformas de gelo, muito maiores do que esta, a romper-se. Essas plataformas devem ter muito gelo, o suficiente para elevar seriamente o nível global do mar".
Protestos à escala global
Entretanto, decorreram nesta sexta-feira, um pouco por todo o Mundo, vários eventos, numa espécie de greve global pelo clima, em protesto contra a alegada inércia dos governos face à crise ambiental.
Centenas de protestos incluíram também a participação de jovens portugueses, com diversas ações em Lisboa, Porto, Coimbra, Braga, Faro e Odemira, nas denominadas primeiras sextas-feiras pelo futuro.
Em Manila, nas Filipinas, os protestos coincidiram com a campanha eleitoral em curso. Ativistas pediram o fim do governo de Rodrigo Duterte e uma melhor política sobre o clima. Já no Bangladesh, vários jovens ativistas surgiram com as cabeças envoltas em capuzes pretos, pedindo a suspensão do financiamento de uma nova fábrica a carvão. Os manifestantes marcharam sob o slogan "as pessoas não lucram".
Na Europa, muitos eventos também estiveram ligados à invasão militar russa na Ucrânia. Em Bruxelas, Bélgica, ativistas climáticos ucranianos e de outros países do Leste europeu pressionaram a classe política, exigindo o embargo aos combustíveis fósseis russos. Já em Berlim, na Alemanha, ativistas ucranianos e ugandeses juntaram-se aos protestos.
Em Aachen, na Alemanha, muitos jovens marcharam, atrás de uma faixa com um recado claro: "O capitalismo não é uma lei da natureza". Em Edimburgo, na Escócia, vários manifestantes juntaram-se em frente ao parlamento escocês, exibindo uma faixa gigante: "As pessoas não lucram". Já em Glasgow, no mesmo país, ativistas bloquearam os escritórios de uma empresa de navegação ligada à Rússia, exigindo o fim do transporte de gás que está a alimentar a invasão da Ucrânia.
