Presidente dos EUA mantinha informação classificada na casa de família e num escritório antigo. Caso pode abalar mandato e dar fôlego a Donald Trump.
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Perto de completar dois anos como presidente dos EUA, Joe Biden está no olho do furacão. Soube-se, esta semana, que o Departamento de Justiça vai investigar os documentos oficiais que foram encontrados na casa e num antigo escritório do chefe de Estado, o que suscitou comparações com o caso que envolve Donald Trump. A polémica pode manchar a imagem do democrata e abrir espaço à ascensão política do republicano.
O caso veio ao de cima quando vários meios de comunicação divulgaram que tinham sido descobertos, no início de novembro, documentos classificados na morada particular de Biden, no Delaware, bem como num antigo escritório que usava em Washington.
As informações classificadas foram obtidas pelos advogados do democrata, porém, o caso só se tornou público depois da CBS News informar que o procurador-geral Merrick Garland tinha designado um responsável para analisar o teor dos documentos, que dizem respeito ao período em que o democrata exercia funções como vice-presidente de Barack Obama.
Apesar de ainda não serem conhecidos detalhes sobre o conteúdo dos documentos, que serão cerca de "uma dúzia", a CNN avançou que estes contêm informações sobre o Reino Unido, Irão e Ucrânia. Começaram, de imediato, a surgir comparações com o caso que envolve Trump, também investigado por esconder documentos de Estado na mansão que possui em Mar-a-Lago, na Florida.
"O Departamento de Justiça sabia da posse ilegal dos documentos e decidiu ocultar essa informação em vésperas de eleições. Não é irónico?", contestou Trump, referindo-se ao facto de os documentos terem sido localizados a poucos dias das intercalares.
Embora ambos os presidentes tenham estado na posse ilegal de documentos, a diferença está, destaca a Imprensa dos EUA, na forma como agiram quando confrontados. Trump, que tinha em casa mais de 300 documentos oficiais, recusou-se a entrega-los. O mesmo não aconteceu com Biden, que se prontificou a colaborar com a Justiça, com Richard Sauber, advogado da Casa Branca, a falar em "extravio inadvertido".
Azar de um, sorte de outro
Ainda assim, inicialmente, o democrata mostrou-se surpreendido com o facto de os documentos estarem em locais que lhe são próximos, sendo que só depois de ter sido revelada a descoberta de informações na casa de família se prontificou a colaborar com o procurador Robert Hur, nomeado por Garland para analisar o caso. "Pretendo acompanhar os factos com rapidez, sem medo", frisou, assegurando que não sabe "o que contêm os documentos".
O impasse de Biden e o facto de ter criticado o antecessor já lhe estão a valer várias críticas, entre as quais de Trump. "Alguém tão crítico das minhas ações é agora apanhado a fazer o mesmo", escreveu o magnata.
Quaisquer que sejam os factos apurados por Hur, os republicanos, com maioria na Câmara dos Representantes, têm uma oportunidade para lançar insinuações sobre Biden, que ainda não clarificou se pretende recandidatar-se à presidência em 2024. "Condenou Trump por esconder documentos secretos e agora é culpado do mesmo crime. Os republicanos rotularão Biden não só como um hipócrita, mas usarão o caso para construir uma narrativa de absolvição para Trump", escreve a CNN, antecipando que a polémica pode jogar a favor do republicano.
Outra questão é a incerteza sobre o que aconteceu aos documentos desde o fim do mandato de Biden como ex-vice-presidente, em 2017, até novembro passado.
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Caso Trump
Em maio de 2021, o Arquivo Nacional pediu a Trump que entregasse os documentos que possuía, mas o antigo presidente recusou, até ser intimado. Os advogados do magnata procederam ao envio de 38 documentos, mas ainda restavam mais de 300, que só foram apreendidos em agosto de 2022, após o FBI ter feito buscas na casa da Florida.
O que diz a lei
Segundo a lei dos EUA, os documentos oficiais são de acesso restrito e devem ser guardados tendo em conta certas medidas de segurança enquanto a pessoa em causa estiver no cargo. No fim dos mandatos, as informações devem ser encaminhadas para o Arquivo Nacional.