Polémica nos Países Baixos: dezenas de dadores de esperma geraram pelo menos 25 filhos
"Calamidade médica". É assim que são descritas as novas descobertas sobre a doação de esperma nos Países Baixos. Pelo menos 85 dadores foram pais de 25 ou mais filhos, depois de um novo sistema de registo ter mostrado que as clínicas de fertilidade têm vindo a quebrar as regras sobre a doação de esperma há décadas.
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De acordo com Sociedade Holandesa de Obstetrícia e Ginecologia (NVOG, na sigla em neerlandês), algumas clínicas usaram deliberadamente lotes de esperma mais de 25 vezes, trocaram esperma sem a documentação necessária ou o conhecimento dos dadores e permitiram que os mesmos dadores doassem esperma em várias clínicas.
Uma lei que visava reduzir o risco de incesto involuntário e consanguinidade deveria ter impedido os doadores de gerar mais de 25 filhos nos Países Baixos desde 1992, mas revelou-se difícil de aplicar devido às rigorosas leis de privacidade. O limite foi reduzido para 12 em 2018, mas os meios para o aplicar, um registo nacional de dadores e mães com um sistema de código a garantir que o esperma do mesmo dador não pode ser utilizado em mais de 12 conceções, entraram em vigor, retrospetivamente, apenas em abril.
“Como resultado, sabemos agora, pela primeira vez, o número exato de crianças por dador”, disse a ginecologista Marieke Schoonenberg ao programa de televisão "Nieuwsuur", segundo o jornal britânico "The Guardian".
Desde 2004, quando o direito dos doadores ao anonimato foi revogado, os dados mostraram que houve pelo menos 85 “doadores em massa” (definidos como pelo menos 25 conceções) nos Países Baixos. A maioria era pai biológico de 26 a 40 filhos, embora vários tivessem entre 50 e 75. Entre eles estavam pelo menos 10 médicos especialistas em fertilidade, incluindo Jan Karbaat, que gerou ilegalmente pelo menos 81 crianças na sua clínica.
Ties van der Meer, da Stichting Donorkind, uma fundação que ajuda as crianças a localizar os pais dadores, considerou as descobertas uma "calamidade médica". Os dados indicam que provavelmente há pelo menos três mil crianças no país com 25 ou mais meios-irmãos e irmãs. “Quando começam a namorar com alguém, vão ter de fazer testes de ADN para ter a certeza de que não estão a relacionar-se com um familiar próximo”, explicou, segundo o mesmo jornal britânico.