A polícia de Moçambique anunciou, esta quinta-feira, o resgate numa operação policial de uma cidadã luso-moçambicana de 26 anos que estava em cativeiro há 50 dias.
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Segundo fonte do Serviço Nacional de Investigação Criminal (Sernic), a operação "culminou com a neutralização de dois indivíduos do sexo masculino".
A vítima tinha sido raptada à porta de casa, no centro de Maputo, no dia 1 de novembro, por três homens armados. "A situação está a ser acompanhada através dos postos diplomáticos e consulares em Maputo, que estão em contacto com a família", disse anteriormente fonte do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) à Lusa, tendo a jovem luso-moçambicana permanecido em cativeiro até hoje.
A polícia de Moçambique deteve três pessoas envolvidas no rapto e procura um quarto elemento considerado "peça-chave" neste e outros casos. "Temos dados de mais um indivíduo que é uma peça chave fundamental para o esclarecimento deste caso de rapto. Estamos a trabalhar, acreditamos que a qualquer momento podemos trazer resultados de mesmo trabalho", afirmou hoje Hilário Lole, porta-voz do Serviço Nacional de Investigação Criminal de Maputo, em declarações aos jornalistas.
"Este trabalho não foi um resgate pago, mas sim um resgate graças ao Sernic, em colaboração com outras forças (...) Não houve necessidade de pagamento de valor para o resgate desta vítima", avançou igualmente o porta-voz, garantindo que decorrem operações para identificar os mandantes do crime.
De acordo com aquela força policial, a vítima foi resgatada numa residência no Bairro Liberdade, cidade da Matola, arredores de Maputo, tendo sido detidos no local dois alegados guardas, que a vigiavam desde 1 de novembro.
Hilário Lole esclareceu aos jornalistas que foi recebida uma "informação" sobre o local do cativeiro, tendo aquela força avançado com a operação de resgate na última madrugada. "Será levada aos cuidados médicos para aferir com profundidade o seu estado atual de saúde, assim como também na sequência deste trabalho for possível neutralizar no local foram num total de dois indivíduos. Em diligências a posteriori, foi possível neutralizar o terceiro indivíduo que também faz parte desta quadrilha", acrescentou.
Segundo o Sernic, decorrem ainda diligências para tentar identificar "outros indivíduos pertencentes a esta quadrilha", tendo em conta a suspeita de estarem envolvidos noutros casos de rapto no país. "A maior parte dos casos são perpetrados pelos mesmos indivíduos, assim como os mandantes também são os mesmos, e acreditamos que com estas diligências todos podemos ter informações de outros cativeiros em que se encontram ainda vítimas raptadas", disse igualmente.
De acordo com o Sernic, já se registaram seis casos de rapto em Maputo, "que foram executados", e outras cinco tentativas, neste caso frustradas devido à intervenção da polícia, dos próprios ou mesmo da população. "Infelizmente estamos com duas vítimas em cativeiro", concluiu Hilário Lole.
Governo português acompanha tentativa de rapto de um outro cidadão luso-moçambicano
O MNE português confirmou anteriormente à Lusa que o Consulado-Geral de Maputo estava a acompanhar a tentativa de rapto de um outro cidadão luso-moçambicano, ocorrido em 27 de novembro, o segundo caso num mês. "O Consulado-Geral em Maputo acompanha a situação da tentativa de rapto de um cidadão luso-moçambicano. As autoridades moçambicanas tomaram conta da ocorrência", referiu fonte oficial do MNE, em resposta a uma pergunta da Lusa.
Trata-se de um comerciante luso-moçambicano ferido a tiro por desconhecidos que o tentaram raptar no centro da cidade de Maputo, crime frustrado graças à intervenção da população.
Quase 400 pessoas subscreveram em 24 horas, até quarta-feira, uma petição online apelando à libertação "incondicional" de cidadãos moçambicanos e luso-moçambicanos em cativeiro em Moçambique e contra os raptos que afetam o país.
"Os raptos são um crime hediondo que assola há vários anos a sociedade moçambicana. Urge à sociedade moçambicana insurgir-se contra o que se está a passar no país", lê-se na petição online "Contra os raptos em Moçambique", e que nas primeiras 24 horas foi subscrita por 379 pessoas. "Os signatários desta petição apelam à libertação incondicional dos luso-moçambicanos e moçambicanos em cativeiro. Para esse efeito, os signatários da presente petição apelam às autoridades de Moçambique para enveredarem todos os esforços na tentativa do seu resgaste, e às autoridades de Portugal que prestem o apoio necessário e incondicional no âmbito da colaboração habitual entre os dois Estados, neste processo", refere-se no documento, dirigido aos governos dos dois países.
Maputo vive há algumas semanas uma nova onda de raptos, sobretudo de empresários, com registo de dois luso-moçambicanos visados desde novembro e suspeitas de envolvimento de agentes ligados à investigação policial neste tipo de crime.
Não são conhecidos dados oficiais sobre o número de pessoas em cativeiro neste momento em Moçambique, vítimas de raptos, mas no dia 17 de novembro um outro empresário moçambicano ligado ao ramo automóvel foi raptado por homens desconhecidos também na cidade de Maputo. "Não deixem estas vítimas cair no esquecimento", apelam ainda os subscritores da petição, cidadãos portugueses e moçambicanos.
O presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, reconheceu quarta-feira, no parlamento, que apesar das melhorias no combate à criminalidade, mantém-se a preocupação com os crimes de rapto que continuam a assolar o país.
"Apesar destes avanços, continuam a preocupar-nos os casos de raptos, mesmo com registo de redução em seis, contra 12 casos registados em igual período de 2022", afirmou o chefe de Estado, no habitual discurso anual sobre o Estado da nação, na Assembleia da República, em Maputo. "E, desses casos, foram esclarecidos quatro ligados ao crime de rapto, foram detidos 31 indivíduos, os mesmos envolvidos em raptos anteriores, tendo também sido detido um mandante na República da África do Sul, no âmbito da cooperação judiciária entre as autoridades dos dois países", acrescentou Nyusi.
A Confederação das Associações Económicas (CTA), a maior associação patronal do país, defendeu no início de novembro, face a esta nova onda de casos, penas de prisão "mais severas" contra raptores e sem possibilidade de pagamento de caução para travar estes crimes.
O primeiro-ministro de Moçambique, Adriano Maleiane, anunciou no parlamento, em maio último, que foram já selecionados os agentes que vão trabalhar numa unidade especial de combate aos raptos que afetam o país.
De acordo com um balanço apresentado pelo chefe do Governo, desde 2021 foram registados 28 casos de rapto, dos quais "15 foram totalmente esclarecidos".