Sindicatos da polícia espanhola acusaram, esta sexta-feira, o partido de extrema-direita Vox de coações e ameaças a agentes nos protestos dos últimos dias em Espanha.
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Os dirigentes do Vox têm apoiado e participado nas manifestações que diariamente são convocadas nas redes sociais para o início da noite junto a sedes do partido socialista espanhol (PSOE), para protestar contra a amnistia de separatistas catalães.
As maiores manifestações têm acontecido em frente à sede nacional do PSOE, em Madrid, e têm terminado com distúrbios e cargas policiais.
Na noite passada, esteve na manifestação de Madrid o deputado Javier Ortega Smith, com um comportamento que hoje o sindicato União Federal de Polícia (UFP), num comunicado, considerou um "despropósito" e de "extrema gravidade".
Ortega Smith dirigiu-se aos polícias no local, apresentou-lhes o cartão de deputado e disse estar ali "como observador" e que o grupo do Vox tinha ido com câmaras para fazer gravações em caso de excessos por parte da unidade antidistúrbios.
"Nem o senhor Ortega nem nenhum deputado têm autoridade para ameaçar, coagir ou tentar dirigir qualquer trabalho da polícia", lê-se no comunicado da UFP.
O sindicato lembrou ao Vox que a polícia que está nas manifestações contra o PSOE "é a mesma" que, por exemplo, protegeu o líder do partido, Santiago Abascal, quando foi apedrejado num comício em Vallecas, no sul de Madrid.
"Instrumentalizar o trabalho da Polícia, em função de quem está por trás dos cartazes, é um erro grave", acrescentou o sindicato, que sublinhou que os polícias não são "capangas" ou "lacaios" de ministros, seja qual for a cor do Governo.
Outro sindicato, Jupol, citado pela agência de notícias EFE, condenou também o comportamento de Ortega Smith e disse que "aquilo que os responsáveis políticos deviam fazer é apelar à calma" porque não se pode consentir nem justificar a violência, sobretudo, violência contra a polícia.
Também o Sindicato Unificado da Polícia (SUP) condenou que os dirigentes do Vox coloquem em pé de igualdade a polícia, que tem a missão de repor a ordem pública, e pessoas violentas que se têm infiltrado nas manifestações em frente da sede nacional do PSOE.
"O SUP pede há anos câmaras de uso unipessoal para todos os colegas que atuam na ordem pública. Não temos nada a esconder, senhor Ortega", disse o porta-voz do sindicato, Jacobo Rodríguez.
O líder do Vox prometeu em 9 de novembro, nos primeiros dias de manifestações convocadas nas redes sociais, "resistência civil longa" aos acordos dos socialistas com independentistas catalães.
Santiago Abascal, que esteve já por diversas vezes nas concentrações de Madrid, disse que o Governo ordenou cargas policiais perante manifestações pacíficas e legais e pediu à polícia para "não cumprir ordens ilegais caso se voltem a repetir".
Além dos distúrbios, como o lançamento de objetos e pedras à polícia, estas manifestações têm estado marcadas pela exibição de símbolos fascistas e da ditadura espanhola de Francisco Franco e, na última noite, pela queima de bandeiras da Catalunha.
A manifestação de quinta-feira, com quatro mil pessoas, segundo as autoridades, foi das maiores até agora em frente da sede do PSOE e ocorreu no dia em que o socialista Pedro Sánchez foi reeleito primeiro-ministro.