Uma nova ofensiva russa obrigou as forças ucranianas a recuarem para os arredores de Severodonetsk, no dia em que as partes envolvidas no conflito fizeram uma troca de militares mortos em combate. Entretanto, continuam as acusações sobre roubo de cereais ucranianos. Eis os pontos-chave deste 105.º dia de guerra.
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- As forças ucranianas foram forçadas a recuar por um bombardeamento russo em Severodonetsk, na região de Lugansk, linha de frente da guerra, controlando agora apenas os arredores da cidade, de acordo com o governador da região, Serhiy Haidai. As forças russas tomaram os bairros residenciais da cidade e estão a lutar para assumir o controlo de uma zona industrial nas proximidades, disse, por seu turno, o chefe da diplomacia russa.
- Sergei Lavrov condicionou um eventual encontro entre Putin e Zelensky ao reinício de negociações e recusou a exigência ucraniana de retirada das tropas russas. "Zelensky quer reunir-se para se reunir", comentou o ministro, numa conferência de imprensa em Ancara, desvalorizando os apelos do líder ucraniano e reiterando que as partes têm de retomar as negociações antes de se falar num eventual encontro de líderes.
- Os pró-russos que controlam parte da região ucraniana de Zaporíjia admitiram que estão a enviar cereais para a Turquia e o Médio Oriente. As autoridades de Kiev alegam que os cereais são roubados pelas forças russas e que são transportados para a Síria e a Turquia através da Crimeia, mas Moscovo nega. "Os nossos objetivos são claros, queremos salvar as pessoas da pressão do regime nazi [ucraniano]. Não interferimos nos cereais. Para que possam sair dos portos, o Sr. Zelensky deve ordenar a saída, é só", disse Lavrov, em declarações à agência AFP, adiantando que a Rússia está disposta a abrir corredores para permitir a exportação de grãos da Ucrânia, mas que esses esforços dependem da disponibilidade ucraniana para remover minas dos seus portos.
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- A Turquia ofereceu-se para executar um plano internacional que permita a distribuição de cereais da Rússia e da Ucrânia e considerou legítimo o pedido russo de levantamento de sanções às exportações agrícolas. "Estamos a falar de um mecanismo a ser desenvolvido entre a ONU, a Rússia, a Ucrânia e a Turquia", disse o chefe da diplomacia turca, Mevlut Cavusoglu, no fim de um encontro com Lavrov, na capital turca.
- Zelensky reafirmou esta quarta-feira que cabe aos Estados-membros da União Europeia decidir se a Ucrânia poder o estatuto de país candidato à adesão já em junho. "Como se costuma dizer nestes casos: a bola está no campo dos organismos europeus, no campo das nações europeias", disse o líder ucraniano, numa mensagem vídeo dirigida ao país. A Ucrânia formalizou o pedido de adesão à UE em 28 de fevereiro, quatro dias depois da invasão do país. Na mesma mensagem, o presidente ucraniano anunciou que Kiev pretende elaborar um designado "Livro dos Torturadores" com as informações recolhidas sobre os "crimes de guerra" que terão sido cometidos pela Rússia.
- O Kremlin anunciou, esta quarta-feira, o objetivo de anexar a região de Kherson, no sul da Ucrânia, à Rússia o mais rapidamente possível. "A inclusão da região de Kherson na Federação Russa será de pleno direito, semelhante à adesão da Crimeia", referiu Sergei Kiriyenko, vice-chefe da administração presidencial russa. Na mesma linha, as autoridades russas instaladas na parte ocupada da região de Zaporíjia anunciaram a pretensão de realizar um referendo sobre a integração na Rússia ainda este anos. A Ucrânia diz que quaisquer referendos realizados sob ocupação russa serão ilegais e com resultados fraudulentos.
- A Ucrânia e a Rússia entregaram, na região sudeste de Zaporíjia, os corpos de 50 dos seus soldados mortos, numa troca que incluiu 37 soldados ucranianos falecidos na siderúrgica Azovstal, em Mariupol, confirmou Kiev. Zelensky disse hoje que mais de 31 mil soldados russos morreram na Ucrânia desde o início da invasão, apontando que a guerra está a custar às Forças Armadas russas "300 vidas por dia" e atingirá em breve um nível que será insuportável para Moscovo.
- Há cerca de 800 civis (incluindo 200 trabalhadores) abrigados dos ataques russos na fábrica de produtos químicos Azot, em Severodonetsk. De acordo com um comunicado emitido pelo proprietário, os funcionários permanecem no local para "proteger o melhor possível o que resta dos produtos químicos altamente explosivos" da fábrica.
- A presidente da Comissão Europeia, Ursula von Der Leyen, acusou o presidente russo de estar a executar um "cerco frio, insensível e calculado" aos países mais vulneráveis do mundo, afirmando que "os alimentos se tornaram parte do arsenal de terror do Kremlin".
- O secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou que as consequências para o mundo da invasão da Ucrânia estão "a acelerar" e "a ameaçar desencadear uma onda sem precedentes de fome e miséria, deixando um rasto de caos social e económico". Um novo relatório das Nações Unidas aponta que cerca de 94 países, que abrigam cerca de 1,6 mil milhões de pessoas, estão "severamente expostos a pelo menos uma dimensão da crise e incapazes de lidar com ela".
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