Dezenas de habitantes de aldeias do distrito de Quissanga, província moçambicana de Cabo Delgado, colocaram-se em fuga face à proximidade de grupos terroristas desde domingo.
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Uma fonte local detalhou à Lusa que ainda na noite de terça-feira um alegado grupo terrorista com 28 elementos passou junto à sede do posto administrativo de Mahate, o segundo mais importante daquele distrito, provocando a fuga de dezenas de residentes para as matas e distritos vizinhos.
"Não amanhecemos bem, em Quissanga. De ontem para hoje os terroristas estão a circular, pelo menos 28 deles passaram, perto de Mahate, uns armados, outros não, mas entrámos em pânico", contou um morador, que também dormiu nas matas de Quissanga e que, esta manhã, chegou à sede do distrito de Metuge.
Explicou ainda que, devido à fuga, o seu irmão de 17 anos encontra-se em parte incerta, incontactável, multiplicando a apreensão e descrevendo a última noite como díficil, quase sem dormir, na mata.
Outra fonte avançou que os grupos terroristas estão em debandada devido às incursões das Forças de Defesa e Segurança no perímetro Macomia, Meluco e Quissanga, e a fuga pode ser uma tentativa de chegar ao distrito de Muidumbe.
"Se não fosse por medo das Forças de Defesa e Segurança, poderiam até matar a população, mas não, e nem tem relatos de saque de bens da população. Sinal de que têm medo, só estão à procura de esconderijo", disse a fonte, a partir da sede distrital de Quissanga.
Na noite de domingo, por volta das 19 horas (17 horas em Portugal continental), os terroristas pernoitaram e jantaram, na aldeia de Missone, obrigando à fuga de alguns populares para as matas por receio de novos ataques.
"Passaram toda noite em Missone, comeram e não fizeram mal a ninguém. Dizem que estão para proteger a população, mas são duvidosos", lamentou outra fonte, a partir da sede do distrito de Quissanga.
Algumas fontes avançaram à Lusa que as Forças de Defesa e Segurança estão no terreno a tentar conter a situação, mas recusam afirmar se foram registados confrontos nas movimentações dos últimos dias.
Populares de Mucojo, na província moçambicana de Cabo Delgado, disseram na segunda-feira à Lusa que aquele posto administrativo é controlado desde domingo por um grupo de terroristas.
"O posto administrativo de Mucojo está nas mãos dos terroristas desde domingo, mas a população continua no mesmo espaço. Eles disseram à população para não se preocupar pois só querem confrontar os militares", disse à Lusa, um dos populares, que pediu para não ser identificado.
O posto administrativo de Mucojo, no distrito de Macomia, dista 40 quilómetros daquela sede distrital e desempenha um papel importante na região, por ser ponto de saída do pescado, tendo sido palco de diversos confrontos com os militares nas últimas semanas.
A província de Cabo Delgado enfrenta há seis anos uma insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico, que levou a uma resposta militar desde julho de 2021, com apoio do Ruanda e da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás.
O conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), e cerca de 4000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.