Não e não. "Não é por ser o país mais envelhecido da Europa que Itália totaliza o maior número de mortes no Mundo causadas pelo novo coronavírus", defende Massimo Livi Bacci, demógrafo italiano, contrariando a teoria de vários especialistas. "A Alemanha é mais ou menos como Itália em número de idosos e aí morre muito menos gente".
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Mais de 21% da população de Itália (total de 60,5 milhões de habitantes) e também da Alemanha (com 82 milhões) têm mais de 65 anos. Embora os idosos constituam o principal grupo de risco do coronavírus, os países registam diferenças abismais quando se fala de vítimas mortais. Itália registava até ontem 15.887 mortes, enquanto na Alemanha o vírus matou 1527 pessoas.
Em Portugal, com dez milhões de habitantes, dos quais 21,3% tem mais de 65 anos, morreram 295 pessoas com Covid-19.
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Para Livi Bacci, o facto de estes países serem envelhecidos tem um lado positivo: "São países com serviços de saúde ótimos para as patologias normais. Só não estavam preparados para uma epidemia". Ou seja, "é como se um país tivesse um bom Exército, mas lhe faltasse um corpo de intervenção rápida - uma epidemia precisa de uma reação rápida".
Mas por mais balas que se disparem na tentativa de acertar numa justificação válida para a tragédia italiana, Livi Bacci diz que é cedo. "Há demasiadas perguntas, perguntas fundamentais, ainda sem resposta: não se sabe quantas pessoas estão contagiadas porque seria necessário fazer testes a toda a população. Também não se sabe quanto dura a imunidade depois de se recuperar da doença. Permanece-se imune por um ano ou para o resto da vida?", questiona.
O caso do Norte
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Com a epidemia a ganhar força a diferentes velocidades, o demógrafo diz nem ser possível calcular quantas vidas o mundo vai perder. Nem em Itália as contas estão fáceis. Até ao passado dia 2 de abril, Livi Bacci calculava cerca de 20 mil mortes até ao final da epidemia. "São números em constante atualização, será necessário mais tempo para se chegar a um número estável".
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Além disso, o vírus ainda pode ganhar fôlego no sul do país, depois de já ter causado 8905 mortes no norte, na Lombardia, região com tanta população como Portugal. "Provavelmente a Lombardia foi mais afetada por ser a que mais contacta com o resto da Europa e com a China", argumenta o demógrafo, indo ao encontro de outros especialistas (ler texto ao lado).
Para Livvi Bacci, da epidemia podem já ser retiradas três lições. "Primeira: é necessário fortalecer o sistema de saúde público, acessível a todos. Depois, é preciso coordenar melhor o sistema de saúde em Itália (quer a nível central, quer ao nível das competências das regiões), mas também na Europa, porque cada Estado andou por conta própria, sem uma estratégia comum. E em terceiro lugar, os atuais sistemas de saúde, mesmo os mais avançados e eficientes, têm de ser equipados para o combate a epidemias, sendo necessário implementar estratégias comuns".
Plano
Roma prevê regresso à normalidade a arrancar em meados de maio
O dia 16 de maio é apontado pela proteção civil italiana como a possível data para a passagem à "fase 2" da luta contra pandemia, de "coexistência com o vírus". Mas isto é só se se mantiver a evolução - que parece ter chegado ao planalto, com os internados em cuidados intensivos a diminuir. "A urgência não terminou. O perigo não desapareceu. Ainda temos meses difíceis pela frente, não arruinemos os sacrifícios feitos até agora", avisou no domingo o ministro da saúde, Roberto Speranza.
O uso de máscara, o distanciamento social rigoroso no emprego e em sociedade, hospitais dedicados à Covid-19, redes sanitárias locais para despistagem massiva e tratamento e uma aplicação de telemóvel que cartografe os movimentos do doente nas 48 horas anteriores à infeção são medidas já anunciadas. Bares, restaurantes, discotecas e ginásios serão os últimos a reabrir. E com regras de espaço.