À primeira vista, a opção pode ser contraditória, mas Francisco Serra Lopes, que vive em Barcelona desde 2005, explica: pediu a nacionalidade espanhola para poder exercer o direito de voto em eleições ou referendos que viabilizem a separação da Catalunha de Espanha.
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Natural de Lisboa, fez um doutoramento na Universidade Pompeu Fabra de Barcelona, onde "mergulhou de cabeça no catalanismo", acabando por partilhar muitas das reivindicações do setor. Foi por isso que se juntou a outros três portugueses residentes em Barcelona para lançar uma petição online de apoio aos cidadãos da Catalunha que querem votar hoje.
Num café junto ao mercado de Sant Antoni, três dos promotores explicam ao JN o que os levou a iniciar o abaixo-assinado. "Pensamos que Portugal deve defender os direitos democráticos de outros povos", começa Hugo Madeira, natural de Coimbra, que até há poucos meses geria um bar com produtos portugueses naquele mesmo bairro. Nuno Margalho concorda: "Nos últimos tempos, temos vivido aqui na Catalunha um atropelo à democracia", diz, referindo-se às medidas adotadas pelo Estado central espanhol para tentar travar o referendo. "Achamos que se o povo tem esse desejo deve ser-lhe concedido o direito de autodeterminação".
Porque a luta catalã "precisa de internacionalização", o grupo de portugueses, que integra também Luís Miguel Rodrigues, achou importante posicionar-se, lançando o manifesto na plataforma Change.org. Admitindo que a divisão entre os favoráveis e contrários à independência se estende à comunidade portuguesa que reside na região, não têm dúvidas de que "a grande maioria dos portugueses defende a realização de um referendo", sublinha Hugo Madeira.
Quanto às autoridades portuguesas, os três jovens admitem que estão numa posição complicada. "Entendo que não se queiram posicionar porque Espanha é o nosso principal parceiro económico", diz Nuno Margalho. No entanto, acredita que a independência da Catalunha poderia mesmo acabar por beneficiar Portugal no jogo geopolítico.