Miguel Álvaro Pereira relata ter sido alvo de agressões físicas, por parte da polícia turca, apenas com base na aparência. De acordo com o português, havia marchas LGBTI+ no país e os polícias acharam que ia participar, por "parecer" homossexual.
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O turista português de 34 anos publicou um vídeo no Instagram, entretanto eliminado, onde relata o incidente, que ocorreu a 25 de junho, por volta das 14 horas. A detenção foi motivada pela sua “aparência” e durou 19 dias.
Álvaro tinha saído do apartamento onde estava alojado e deparou-se com uma barricada policial. Em busca de indicações para uma zona turística, dirigiu-se aos agentes da polícia. No entanto, em vez de receber ajuda, foi detido.
"Fui rodeado por vários polícias [oito, segundo se lembra]. Agarraram-me os braços e tentei libertar-me. Um deles bateu-me nas costelas, empurraram-me contra uma carrinha, bateram-me no ombro, que ficou a sangrar. Depois de cinco horas na carrinha da polícia, em que só me disseram para me calar e estar quieto, um deles explicou-me que tinha sido detido por causa da minha aparência“, relatou o sul-africano com cidadania portuguesa.
"Pensaram que participaria numa marcha LGBTI+ não autorizada que ia acontecer ali perto, por parecer gay. Estava no sítio errado à hora errada", acrescentou Miguel Álvaro.
O turista questionou várias vezes os agentes da polícia sobre o motivo da detenção, mas só ao fim de cinco horas de detenção é que teve resposta. Estava prevista a realização de uma parada do orgulho gay não autorizada numa zona perto de onde se encontrava e a polícia destacou 60 mil agentes para deter indivíduos suspeitos de participarem na manifestação.
Miguel Álvaro foi transferido para uma esquadra da polícia, depois de 13 horas dentro da carrinha, sem poder contactar ninguém. No dia seguinte, depois de ter sido privado de sono desde as duas da manhã, foi levado para o centro de detenção de imigrantes de Tuzla, em Istambul, conhecido pela sobrelotação, violência e más condições sanitárias, de acordo com o jornal "Público".
O português, juntamente com outros detidos do Irão e da Rússia, foi transportado para a prisão de Sanliurfa, a poucos quilómetros da fronteira com a Síria. O local tinha 20 celas onde os indivíduos eram amontoados. O quarto que lhes foi atribuído estava num estado degradante, com os lençóis sujos, o chão encharcado de urina e até larvas visíveis nas camas. Não tinham quase acesso a necessidades básicas, como comida ou água.
"Chegámos a Sanliurfa ao final do dia de terça-feira [27 de junho]. Ainda não tinha dormido, feito uma refeição ou tido acesso ao meu telemóvel desde a detenção. Ninguém sabia onde eu estava. Ficámos nessa prisão até 13 de julho, com outros reclusos a ameaçar-nos de morte. Todas as noites um de nós ficava acordado para garantir que ninguém entrava na nossa cela para nos magoar", relatou Álvaro.
O português apenas conseguiu fazer uma chamada na semana seguinte, para avisar que se encontrava detido e que precisava de ajuda. A família contactou a Embaixada de Portugal na Turquia, que nada fez. Nenhum representante visitou Miguel Álvaro, nem lhe foi oferecido qualquer tipo de ajuda.
Álvaro acabou por sair da prisão a 12 de julho, 19 dias após a detenção. Escoltado pela polícia até à porta de embarque, voou para Portugal a 13 de julho, sendo que está proibido de voltar à Turquia nos próximos três anos. Apesar de manifestar pouca vontade de regressar, continua preocupado com um amigo, que ainda está detido e corre o risco de ficar preso durante seis meses, por ser refugiado.
"Rezo para que se faça justiça. Não vou descansar. Espero levar o meu caso ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos”, garantiu.