Pedro Mendes e Lucile Garaux não encontram soluções para sair do país para onde viajaram de férias e temem a discriminação racial que começam a sentir. Ele português, ela francesa. Vivem na Alemanha e dizem que nenhum dos países está a dar-lhes respostas.
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Quando Pedro, de 31 anos, e a mulher, Lucile, de 26, viajaram de Nuremberga, Alemanha, onde vivem, com destino aos Camarões, para umas férias de duas semanas, nunca pensaram que seria uma viagem sem data de regresso. Chegaram ao país africano a 7 de março para visitar o irmão de Lucile - de nacionalidade francesa, como ela -, que está lá a trabalhar. E tinham voo de regresso marcado para este sábado. Só que, face à pandemia de Covid-19, o voo foi cancelado e não há previsão de quando conseguirão sair dos Camarões. Para piorar a situação, dizem estar a ser vítimas de ataques xenófobos.
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"Estávamos numa zona de praia, no sudoeste do país, quando soubemos que iam começar a encerrar aeroportos e a inviabilizar transportes. Por isso, viemos para a capital, Yaoundé. Até ontem [quinta-feira] de manhã, o nosso voo da AirFrance - porque íamos voar para a Alemanha via Paris - esteve sempre confirmado. Entretanto, foi cancelado e a AirFrance agora diz que não vai haver voos até dia 5 de maio", contou ao JN Pedro Mendes, natural de Aveiro.
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A partir daí, o casal iniciou contactos para encontrar uma solução, mas diz sentir-se num "autêntico jogo de pingue-pongue". "Na embaixada francesa, colocaram-nos numa lista de possíveis repatriamentos e mandaram-nos aguardar. Entretanto, comecei a falar com os organismos portugueses. Já contactei a embaixada portuguesa na Nigéria, que é a mais próxima, e enviaram-me um documento com contactos e com medidas de prevenção da Covid-19. Enviei email para o Gabinete de Emergência Consular e liguei para um contacto que me deram, de uma linha de emergência para estes casos ligados à pandemia. Disseram para falar com o consulado em Douala ou com a embaixada, na Nigéria, com quem já tinha falado. Ou seja, sinto-me empurrado de um lado para o outro", lamenta o português.
Pedras atiradas a brancos
O visto do casal para permanência nos Camarões expira a 6 de abril. Entretanto, na próxima segunda-feira, Pedro e Lucile deveriam regressar ao trabalho, na Alemanha. Mais do que isso, o português diz-se preocupado com o facto de não estarem protegidos, por muito mais tempo, contra algumas doenças existentes no continente africano e pelo facto de estarem a sofrer discriminação racial, por terem pele branca.
"Chamam-nos corona quando saímos à rua. E hoje já soubemos que atiraram pedras a pessoas brancas. O país está com 10 ou 20 casos de infeção [do novo coronavírus] e temos receio que a violência escale à medida que o número de casos aumenta, porque aqui têm a ideia que isto veio das pessoas com pele branca", adianta Pedro. "Estes são tempos de confinamento, mas temos o direito de o fazer no país onde vivemos, na nossa casa. Precisamos de sair daqui", apela.