Portuguesa famosa por alimentar o Vaticano: "Estava grávida e pedi-lhe a bênção. Francisco abraçou-me"
A portuguesa Fátima Afonso é dona de um restaurante português ao lado do Vaticano. Habituada a alimentar a Cúria, ganhou o epíteto de "mulher mais famosa do Vaticano", recorda as visitas de Bento XVI e o abraço especial de Francisco quando estava grávida.
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O cheiro a peixe grelhado na Borgo Pio, mesmo ali a dois passos da Cidade do Vaticano, não engana. A quem tivesse dúvidas, a bandeira de Portugal à porta dissipa-as. Estamos a chegar ao Tre Pupazzi, que será o único restaurante português em Roma, segundo nos conta Fátima Afonso, que há 35 anos trocou o Gerês pela cidade eterna. E foi neste espaço a escassos minutos do centro de decisão da Igreja Católica que Fátima conheceu o Papa Francisco, ainda era ele Cardeal, e quando o restaurante era italiano, da família do marido.
"Um familiar da minha sogra era muito amigo do Papa Francisco. E quando eles ficavam em Roma, vinham sempre juntos. Mesmo antes das eleições, quando houve o último conclave, vinha-nos cá visitar". Sobre o sacerdote, só tem a dizer palavras positivas, que correspondem à imagem pública de simpatia e simplicidade. Mas há um momento que a marcou.
"Estava grávida da minha filha e tinha-lhe pedido para dar uma bênção à minha filha. Abraçou-me de uma maneira, que me transmitiu mesmo uma energia muito positiva", recorda sobre o Papa, que desde então deixou de ir ao restaurante, ainda que não o tivesse esquecido. Certo dia, um padre parou em frente ao restaurante a espreitar. Fátima perguntou se precisava de alguma coisa e ele contou-lhe que tinha saído de uma audiência privada e que ele lhe confidenciou saudades da massa do Tre Pupazzi. "Juro. Que não me possa levantar desta mesa", sublinha Fátima.
Alimentar a Cúria
Mas afinal o que comia o Papa quando parava naquele restaurante, que se foi aportuguesando, depois de Fátima e o marido, filho dos donos originais do negócio, tomarem conta da gestão. "Sempre pratos romanos. Adorava. Por exemplo, a carbonara, a matriciana, a cacio e pepe. Eram os pratos que ele escolhia sempre. E depois também a brusqueta".
Coincidência ou não, quando chegamos ao Tre Pupazzi, saía um cardeal que tinha acabado de almoçar. Fátima não o reconheceu, mas desde há muitos anos que é a anfitriã de almoços e jantares de responsáveis da Igreja. Trabalham e vivem por perto. Conta que há alguns bispos e cardeais que até brincam com isso, dizendo que é a "mulher mais famosa do Vaticano".
"Muitas vezes quem reserva ou pede para levar deixa outro nome, pela privacidade", mas ainda assim faz-nos uma pequena inconfidência. "Ainda ontem esteve cá o Tolentino", um dos cardeais passíveis de ser eleito Papa. "Levou para casa. Mora perto", sorri. E quando ele não pode ir ao restaurante, vai o restaurante entregar. Bento XVI, quando ainda era Ratzinger, era também visita habitual do espaço.
Mas a memória que mais emoção lhe traz é a de um sacerdote que todas as semanas comia no restaurante, até que de uma vez lhe trouxe um terço benzido por Francisco. "Isto foi o terço que me deu o Papa Francisco na audiência, que tive com ele, mas quero oferecê-lo a vós", relata Fátima, para já de voz embargada e pele arrepiada concluir: "Morreu no dia seguinte".