Portuguesa votou nos democratas pelo direito ao aborto. "Pelo menos, as políticas de Kamala não nos vão matar"
A portuguesa Maria João Lobo Antunes, professora de criminologia a viver nos Estados Unidos, votou esta terça-feira em Glenelg. Diz que Trump "é o medo" e que os EUA "não vão voltar atrás".
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“Trump é o medo; mas não há lugar para o racismo, a misoginia, a xenofobia, a homofobia ou a transfobia na América de 2024. Não vamos voltar atrás”.
Maria João Lobo Antunes votou hoje de manhã, bem cedo, na Triadelphia Ridge Elementary School, uma escola primária em Glenelg, entre Baltimore e Washington DC, no Maryland. É professora de Criminologia na Universidade de Towson. Após o voto, recebeu o JN/TSF na casa onde vive com o marido e quatro filhos.
Exerceu o dever cívico na escola básica deste lugar com dois mil habitantes, no Condado de Howard: “já estavam pessoas a votar. Votámos, viemos para casa e agora estamos aqui nesta expectativa de saber quem é que ganha. Há muita ansiedade, especialmente entre as mulheres, que sentem que não há grande alternativa se não votar e esperar que o Trump não ganhe”.
Além da Presidência, neste círculo eleitoral, vota-se sobre direitos reprodutivos, que a portuguesa nascida em Nova Iorque considera especialmente importante: “o direito ao aborto é um direito de cuidados reprodutivos de saúde, mas há mais: é direito à contraceção e os republicanos tendem a ver o contracetivo como só para prevenir a gravidez, mas as mulheres na menopausa ou com problemas hormonais, precisam de aceder a esse tipo de medicamentos. É outro direito que tem um grande efeito na qualidade de vida das mulheres, a preservação e o restabelecimento dos direitos da responsabilidade e da esperança”.
Destaca a importância do “reconhecimento de que os EUA são um país de diversidade e inclusão que não pode ser apagado por uma retórica de ódio e medo. Não há lugar para o racismo, a misoginia, a xenofobia, a homofobia ou a transfobia na América de 2024. E reitera o slogan da campanha de Kamala: “Nós não vamos voltar atrás.”
O tema do aborto
A criminologista elabora sobre o que pode estar em causa: “Leciono Teorias de Crime em que se tenta explicar porque é que indivíduos cometem crimes. O crime é um conceito social: imaginemos que uma miúda de 10 anos é violada, precisa de fazer um aborto, mas não pode no Estado em que está. E depois vai para outro e é considerado crime. Que teoria ou o que vamos utilizar para explicar esse tipo de crime? Porque não é um crime igual a homicídio”. Reconhece que, por vezes, “são conversas muito difíceis, particularmente porque temos grupos de alunos bastante conservadores”. Para ela, Donald Trump significa “o medo”. A questão é que sabemos que, “ao menos as políticas da Kamala não nos vão matar, não nos vai pôr em perigo, não vai criar restrições económicas, especialmente para as mulheres”.
E remata: “Foi por causa do Donald Trump que a lei do aborto foi alterada”. A professora entende que “isto não é tanto Republicanos versus Democratas. O Trump não tem nada de republicano. É um ditador, ou alguém que quer ser ditador e não consegue. A razão por que ele se candidatou este ano à Presidência é para evitar a prisão”.
Que pessoa vê em Kamala Harris? Não poupa elogios: “Acho que é muito inteligente e interessa-se pelo bem-estar do povo. Os críticos dizem que ela muda muito de opinião. Tento sempre incutir aos alunos que nós podemos mudar de opinião, avançar e evoluir naquilo que pensamos”. Maria João crê que essa “é uma qualidade nos líderes porque permite que não haja extremismos e que nós, como cidadãos, possamos mudar de opinião”. E assim, um presidente pode melhor gerir “a maneira de representar todos”.