Portugueses ameaçados e insultados em Angola após primeiros casos de Covid-19 no país
Uma lista com nomes, telefones e moradas de cidadãos provenientes de Portugal que chegam a Luanda está a ser divulgada nas redes sociais em Angola e há portugueses com medo de sair à rua por serem vistos como culpados pela introdução da doença no país. No documento, a que o JN teve acesso, estão informações de passageiros cujos voos aterram esta segunda e terça-feira em Luanda, provenientes de Lisboa.
Corpo do artigo
Uma mulher de 50 anos foi agredida num supermercado em Luanda no sábado, dia em que foram conhecidos os dois primeiros casos de Covid-19 no país, por cidadãos angolanos que regressaram de Portugal. A vítima sofreu um traumatismo craniano e teve que receber assistência hospitalar. Proveniente de Santarém, a auxiliar de educação na Escola Portuguesa de Luanda estava em Angola desde janeiro, não sendo um dos casos que tinha que cumprir quarentena obrigatória.
11959433
O caso foi denunciado ao JN por uma colega da vítima, professora na mesma escola, que prefere manter-se no anonimato e confessa medo em sair de casa por já ser constantemente insultada na rua. "Vai-te embora (...), trouxeste a doença, vai para a tua casa".
A docente considera que desde sábado que há um clima de grande animosidade contra os portugueses e culpa o governo por "pedir aos angolanos que denunciem aqueles que entram em Angola e não cumprem a quarentena obrigatória". "Momentos depois do anúncio dos primeiros infetados, a lista começou a ser partilhada nas redes sociais", lamenta.
"Trouxeste a doença, vai para a tua casa"
O desejo da docente é sair do país, onde está desde janeiro, e tinha voo marcado para o dia 28, mas foi cancelado. Já pediu repatriamento urgente à embaixada portuguesa e ainda não obteve resposta.
Na escola, queixa-se de corte de ordenados desde outubro e o não pagamento do último salário, o que torna impossível o pagamento do valor dos voos existentes. "Os voos que estão a ser autorizados a sair de Luanda rondam os 2300 euros o bilhete, exemplo do voo anunciado da Euroatlantick para repatriamento dos portugueses". "Foi ainda anunciado um voo da TAP na próxima quarta-feira, com preços a partir dos 1800 euros, o que para os professores com ordenado em atraso, é insustentável", afirma.
11928008
Até encontrar uma solução, tem que continuar a dirigir-se diariamente à escola, onde na sexta-feira foi decidida a suspensão das aulas. Contactada, a direção pedagógica da Escola Portuguesa de Luanda negou existirem salários em atraso, "uma vez que o salário é pago no final de cada mês, e será processado com normalidade".
Sobre os cortes nos ordenados, remeteu para a Cooperativa que gere a instituição quaisquer explicações e sobre a presença dos docentes na instituição, onde não decorrem aulas, admitiu "reorganizar o funcionamento dos serviços". Até à publicação da notícia, o Ministério da Educação e dos Negócios Estrangeiros não responderam às questões colocadas pelo JN.