Preocupações ambientais, desejo de ajudar a comunidade e vontade de desenvolver a região onde vivem estão entre os motivos que levaram vários portugueses a candidatar-se às eleições autárquicas que decorrem nesta quinta-feira em Inglaterra. Também o País de Gales vai a votos.
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Luís Miguel Lançós é um deles. Candidato pelo partido local Confelicity na freguesia de Blenheim Park, em Southend-on-Sea, no sul de Inglaterra, referiu à Lusa que não tem ambições políticas. "Eu não sou político, nem sequer quero ser eleito. Não estou a fazer qualquer campanha. O que eu quero é ajudar a desenvolver a região onde vivo", disse.
Tornar-se candidato foi a forma que encontrou para tentar influenciar os decisores locais a apoiar o projeto de criar um polo tecnológico na cidade. Teve a ideia depois de trocar Londres, a capital do país, onde vivia desde 2007, por Southend durante a pandemia. Já no ano passado, deixou o trabalho num banco norte-americano para lançar uma 'startup' ligada à inteligência artificial.
Na cidade onde agora vive diz ter encontrado um "discurso derrotista" e um aeroporto subaproveitado, apesar do "potencial para promover o empreendedorismo e a inovação" em setores como a aviação verde e a tecnologia espacial.
Em Bristol, no sudoeste de Inglaterra, Moisés Santo é candidato na freguesia de Avonmouth & Lawrence Weston pelo partido Os Verdes. Filho de mãe portuguesa e de pai timorense, nasceu em Timor-Leste e vive no Reino Unido desde 2006. Sempre teve interesse em contribuir para o bem da comunidade, que agora ronda as duas mil pessoas.
Fundou uma associação de timorenses e uma equipa de futebol e tem promovido aulas de inglês e ajuda para os timorenses tirarem a carta de condução e melhorarem as suas perspetivas profissionais. Foi Moisés Santo quem abordou o partido, devido ao interesse em envolver-se nas atividades locais por se preocupar com o ambiente, mas também por se sentir alinhado com a ideologia de esquerda "que ajuda as pessoas", como disse à Lusa.
"Os senhorios tratam mal os imigrantes, que parece que não têm direitos", lamentou, referindo que quer melhorar as condições de habitação e aumentar a frequência dos autocarros.
Deolinda Maria Eltringham também é candidata pelo partido ecologista, mas na freguesia de Hitchin Bearton, em North Hertfordshire, a cerca de 60 quilómetros a norte de Londres. Nascida no Porto em 1959, cresceu em Moçambique até se mudar com a família para a África do Sul em 1975, após a descolonização.
Casada com um britânico, em 1986 instalou-se em Hitchin, onde a formação científica e a preocupação com as alterações climáticas a levaram a desenvolver várias iniciativas ligadas à reciclagem e à poupança de energia. No ano passado foi declarada "rainha da reciclagem" pela revista “Hertfordshire Life” por ter evitado que 22 toneladas de artigos, desde canetas a escovas de dentes e diferentes embalagens de produtos, acabassem numa lixeira.
Deolinda Eltringham também é ativista do movimento "Make Votes Matter", que defende a substituição do sistema de maioria simples pelo de representação proporcional no Reino Unido. Este é o maior obstáculo a uma verdadeira representação democrática na maior parte da política inglesa", referiu.
No nordeste de Londres, Valdomiro Lourenço é candidato pelos Liberais Democratas na freguesia de Hutton South, no concelho de Brentwood. Chegado ao Reino Unido em 2015, o conimbricense de 54 anos sentiu o impacto do 'Brexit' em termos de xenofobia e de desemprego no setor automóvel, em que trabalhou.
"Desde esse período que me filiei nos 'Lib Dems' porque sou pró-europeu e é o único partido que tem uma posição mais clara em relação a isso", justificou. Apesar de Brentwood ter uma maioria dos Liberais Democratas, tem pouca esperança de ganhar aos atuais autarcas conservadores, pelo que fez pouca campanha.
A segurança, a construção de espaços desportivos para os jovens e a gestão das contas públicas têm sido algumas das questões levantadas pelo português natural de Coimbra.
Nestas eleições vão a votos cerca de 2.600 lugares em 107 autarquias. Só em Inglaterra há 317 municípios, cujos representantes políticos são escolhidos em anos alternados por mandatos de quatro anos.
As mesas eleitorais estão abertas até às 22 horas e alguns resultados deverão ser anunciados durante a madrugada de sexta-feira, mas a contagem poderá prolongar-se até sábado.