Emigrantes lusos em LA temem ser deportados, mesmo os que se encontram em situação legal. Medo é generalizado.
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O clima de perseguição aos portugueses residentes em Los Angeles (LA), no estado da Califórnia, agravou-se desde que o presidente dos EUA, Donald Trump, decidiu o envio da Guarda Nacional para a cidade. Apesar de não haver relatos de vítimas entre a emigração lusa no decorrer dos protestos dos últimos dias, reina a incerteza permanente em relação ao futuro.
“Os emigrantes, inclusive os que possuem Green Card [autorização de residência] e que, por isso, estão em situação legal, podem ser detidos a qualquer momento e reenviados para Portugal. Basta que seja encontrado um pequeno pretexto, como uma simples multa antiga de trânsito, para a ordem ser dada”, descreve ao JN Ana Rita Guerra, jornalista residente há 11 anos em LA. “O sentimento dentro da comunidade é de terror. Já ninguém escapa, mesmo quem é cumpridor da lei”, continua. E os relatos somam-se dia após dia. “Audiências normais terminam em situações de risco, com as pessoas inesperadamente expulsas para o país de origem ou enviadas para presídios durante dois ou três meses”, acrescenta.
Também começam a chover exemplos de quem esteja a adiar, ou mesmo anular, períodos de férias em Portugal por “temer que no regresso lhes seja impedida a entrada nos EUA”, conta ainda a jornalista.
Ana Rocha, portuguesa que vive, igualmente, num condado de Los Angeles, relata “rusgas sem regra, ao estilo militar, muitas vezes com carrinhas e agentes à paisana”. As operações decorrem “em locais de trabalho e, inclusive, em escolas”, com imigrantes levados de forma indiscriminada. “Não apenas são detidos os ilegais, basta que não apresentem na hora prova de cidadania”, diz esta diretora de serviços criativos. “Sou residente legal e passei a andar sempre com o meu Green Card, para o caso de ser abordada”, exemplifica.
Fechados em casa
O receio sentido pela comunidade portuguesa em LA e na Califórnia não é exemplo único nos EUA. Nos restantes estados, o sentimento é idêntico. “Não só há quem tenha receio de voar para Portugal por recear não obter depois autorização para voltar ao país, como há mesmo quem evite ao máximo sair de casa para não correr o risco de ser detido e deportado”, relata ao JN Nelson Tereso, advogado luso-americano que conhece bem a realidade da nação liderada por Donald Trump.
“São comuns situações de emigrantes que vivem nos EUA há duas ou três décadas, alguns até há mais tempo, que formaram família, trabalham, pagam as suas contribuições e impostos e que, mesmo assim, permanecem ilegais”, aponta. “São esses os que manifestam mais preocupações e que alteraram o seu estilo de vida habitual”, acrescenta.
Os casos de perseguição à comunidade lusa atingiram níveis “nunca dantes vistos”. Uma das situações mais recentes aconteceu em Newark, em Nova Jérsia, onde agentes da US Immigration and Customs Enforcement’s (ICE), a agência federal de imigração, “invadiram uma peixaria gerida por portugueses e detiveram todos os que se encontravam no interior, inclusive um veterano da guerra no Iraque”. Nelson Tereso garante que o ambiente é de “preocupação geral”.