As chuvas que atingiram o Dubai durante a noite de segunda-feira e na terça-feira, consideradas as piores da cidade dos últimos 75 anos, superaram todos os recordes desde que os Emirados Árabes Unidos começaram a recolher dados de precipitação, em 1949. Emirado está mal preparado para chuvas desta intensidade.
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Ruas alagadas, pessoas presas no trabalho e caos generalizado. Foi este o cenário que se abateu sobre o Dubai no início desta semana, num emirado que está habituado a chuva, mas que não está preparado para o nível de pluviosidade registado. Portugueses a residir no emirado relataram ao JN as dificuldades que ainda se fazem sentir e como conseguiram contornar os problemas.
João (nome fictício), um português de 25 anos residente no Dubai, que prefere manter o anonimato, contou ao JN que, na quarta-feira, "já não havia água" no supermercado. As poucas garrafas disponíveis custavam cinco euros, um preço fora do normal. Embora não tenha sentido a falta de comida nos supermercados, recebeu imagens de prateleiras vazias e, nesta quinta-feira, saiu mais cedo do trabalho para ir às compras e não correr o risco de ficar sem bens essenciais.
Depois da grande chuvada, ainda há restaurantes que permanecem fechados, mas João não sabe se será "por falta de comida", ou pelo facto de as pessoas não conseguirem aceder ao local de trabalho, devido às ruas inundadas e estradas cortadas.
Teletrabalho para evitar deslocações
"Todos os meses chove", conta João, que já está habituado a fazer teletrabalho quando a meteorologia dificulta os acessos ao escritório. "O Dubai implementa logo teletrabalho, pelo menos para os funcionários públicos". Em alguns casos é "encorajado", noutros é "mesmo obrigatório".
No seu caso em particular, mora perto do local de trabalho, o que lhe permitiu deslocar-se ao escritório esta quinta-feira. No entanto, na viagem de regresso, "não havia táxis, não havia metro, não havia bicicletas" ou qualquer outro meio. Regressou pé, admitindo que, apesar da chuva que se fez sentir, agora "está bom tempo", com "sol e calor".
Um outro português de 32 anos que reside no Dubai, mas que preferiu manter o anonimato, realçou que também lhe foi "proposto teletrabalho de imediato, para o resto da semana". No emirado, "levam a segurança muito a sério e com estradas alagadas, transportes públicos parados e tempo perigoso, foi sugerido por empresas e entidades governamentais que todos ficassem em casa".
O mau tempo destes últimos dias foi inesperado, admite João, que considera que o Dubai não está preparado para níveis de precipitação tão elevados, faltando mecanismos de escoamento da água. "Foi o caos", admite, acrescentando que, embora a chuva seja um fenómeno constante no emirado, esta tempestade expôs algumas fragilidades.
Ainda assim, o Governo tem fornecido alimentos e água a quem não consegue ter acesso devido aos impedimentos causados pela chuva. O Executivo está a "apoiar o máximo que pode".
Segundo o jovem, o grande desafio que trouxeram as cheias foi a sensação de "impotência" e o facto de "não saber quando vai acabar". João relatou ao JN casos de pessoas que passaram por situações mais complicadas, como por exemplo uma assistente de bordo que está no aeroporto desde as 15 horas de quarta-feira, sem conseguir regressar a casa, devido ao cancelamento dos voos, ou um colega de trabalho que, devido às inundações, apenas conseguiu sair do escritório às 4 da manhã do dia seguinte. Há ainda pessoas cujas "casas alagaram" com a chuva.
Voos cancelados
A principal companhia aérea de Dubai, a Emirates, cancelou todos os check-ins na quarta-feira, enquanto funcionários e passageiros tentavam aceder ao aeroporto, com estradas de acesso inundadas e alguns serviços de metro suspensos. Dezenas de voos foram atrasados, cancelados e desviados durante as chuvas torrenciais de terça-feira.
Segundo João, o aeroporto está num "caos", situação confirmada por Ana M., uma assistente de bordo portuguesa que trabalha na Emirates e reside no Dubai. "Devido às condições meteorológicas, foi um desafio conjugar o trabalho com o cansaço", explica, realçando a dificuldade dos funcionários em chegar ao local, deixando a capacidade de resposta aos passageiros ainda mais debilitada.
Segundo a assistente, "o excesso da água levou ao atraso e cancelamento de um grande número de voos, que estagnou o processo normal de check-in e embarque dos passageiros e da tripulação no Aeroporto do Dubai".
O aeroporto está a enfrentar "graves repercussões", mas a situação está a normalizar de forma gradual. "Neste momento, já não há água em excesso e as pistas estão desobstruídas mas ainda há falta de pessoal e centenas de pessoas à espera para apanhar voos", nota Ana.
"O sol já brilha mas o aeroporto do Dubai, um dos mais movimentados do mundo, está ainda a recuperar", salienta. Embora não tenha informação interna sobre quando é que o aeroporto voltará a funcionar sem perturbações, a assistente acredita que "seja uma questão de dois ou três dias".