Os preços dos imóveis no Rio de Janeiro registaram no último ano uma subida até 100%, mas para os profissionais do sector "ainda" não se trata de especulação, e sim de um aumento real na procura por moradias na cidade.
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Para o sócio-director da Imobiliária Mauá, Marco António Viera de Mello, o forte aumento ocorreu, sobretudo, devido à fartura de crédito e à melhoria das condições das classes C e D, além da própria actividade económica mais aquecida, que naturalmente funciona como uma "catalisadora" do mercado imobiliário.
"É bem diferente do que aconteceu nos EUA, os preços estão mais altos porque as pessoas realmente estão pagando esse valor. Acho que o aumento reflecte a melhora do poder aquisitivo da classe média, que é a grande protagonista dessas compras", pondera.
Como exemplo desta variação, refere que um apartamento de três quartos numa rua nobre no bairro do Flamengo, na zona sul do Rio, custava entre 500 e 600 mil reais (260 mil euros), no início do ano passado, e hoje chega a custar 1 milhão de reais (434 mil euros).
Na Atlântica, avenida beira-mar do bairro de Copacabana, um apartamento que custava 3,5 milhões de reais (1,5 milhão de euros), até ao ano passado, hoje já passou a custar 7,5 milhões de reais (3,26 milhões de euros), segundo dados de correctoras de imóveis da cidade.
Na avaliação de Mello, no entanto, não há "ainda" uma bolha inflaccionária no sector, mas ele não descarta este cenário, caso a valorização continue a este ritmo, nos próximos meses.
"O que houver de valorização a partir de agora, poderá ser especulação, porque até então essa alta estava refletindo um aumento do poder aquisitivo da população e também do acesso ao crédito para financiamentos", considera.
"Acredito que essa alta não vá continuar, podemos dizer que desde Fevereiro os preços, que já vinham subindo desde o princípio do ano passado, começaram a se estabilizar", afirma Vieira de Mello à Lusa.
A política de segurança adoptada pelo governo do Rio também ajudou a influenciar a melhora da imagem de alguns bairros próximos de favelas, que há anos vinham sofrendo com a desvalorização dos imóveis, por conta da falta de segurança.
Por outro lado, as próprias favelas já pacificadas, muitas delas bem localizadas, em regiões de fácil acesso aos principais pontos da cidade e também com vistas privilegiadas sobre o mar, começam a ver os preços de suas moradias aumentarem.
Segundo Vieira de Mello, por conta da implantação de UPP (Unidades de Política Pacificadora), sua imobiliária conseguiu reajustar o preço do aluguer com inquilinos que moram junto do morro Dona Marta, em Botafogo, ou mesmo no início das primeiras ladeiras que dão acesso à comunidade.
"Devido à situação anterior, com o domínio do tráfico, os alugueres estavam muito desfasados. De um modo geral, conseguimos reajustar esses contratos em cerca de 50 por cento do valor", informa o director da imobiliária, que ainda não trabalha com locação de imóveis dentro das comunidades, mas não descarta a possibilidade de fazê-lo, em breve.