
Presidente do Chile, Gabriel Boric, diz que, assim, "deixam de existir presos de primeira e segunda categoria"
Foto: Andres Martinez Casares/AFP
O presidente do Chile, Gabriel Boric, anunciou que a prisão de Punta Peuco, um local privilegiado reservado desde 1995 para os criminosos de lesa-humanidade da ditadura (1973-1990), passou oficialmente a estabelecimento de detenção comum.
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"A Procuradoria foi informada do decreto, pelo qual Punta Peuco deixa de ser uma instalação penal especial e passa a ser definitivamente uma outra, comum, à disposição assim das necessidades do país, em particular no contexto do desafio que enfrentamos em matéria de segurança", declarou, durante uma conferência de imprensa, no Palácio La Moneda, sede da Presidência.
"Como já afirmei, o facto de o Chile manter uma penitenciária especial como esta não tem justificação. Desde há anos que se conhece a sobrepopulação das prisões pelo que cada esforço para aumentar e melhorar a infraestrutura prisional é uma boa notícia em matéria de segurança", realçou Boric.
Como foi tornado público, nesta antiga prisão privilegiada estão a construir-se um espaço para visitas, um pavilhão oficinal e a colocar-se instalações para vigilância onde antes havia um campo de ténis.
"A partir de hoje, no Chile deixam de existir presos de primeira e segunda categoria e os lugares vão ser distribuídos segundo critérios de segurança e não de privilégio", disse Boric.
O anúncio foi feito a menos de duas semanas das eleições presidenciais, em que pela primeira vez desde o fim da ditadura concorrem com possibilidade de passar à segunda volta, em dezembro, candidatos de extrema-direita, defensores do regime de Augusto Pinochet, os ex deputados José António Kast e Johannes Kaiser, juntamente com a filha de um dos oficiais que integrou a Junta Militar que dirigiu o país depois do golpe de Estado, que derrubou e assassinou o presidente Salvador Allende.
Por Punta Peuco passaram criminosos como Manuel Contreras (1929-2015), que chefiou os serviços de informações (DINA), que perseguiram, torturaram, exterminaram e fizeram desaparecer centenas de opositores à ditadura e militantes de Esquerda.
Condenados como Miguel Krassnoff, Pedro Espinoza, Álvaro Corbalán e Raúl Iturriaga Neumann, todos sentenciados a centenas de anos de prisão por crimes de lesa humanidade, lá continuam detidos.
A ditadura de Pinochet assassinou pelo menos 3200 pessoas, das quais 1469 estão desaparecidas, segundo números oficiais.
