O presidente iraniano fez, esta sexta-feira, um discurso sem precedentes numa manifestação anual pró-Palestina na Faixa de Gaza, numa rara demonstração da importância do Irão para o movimento islâmico Hamas, que governa de facto o território.
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Num discurso virtual transmitido a centenas de apoiantes do Hamas e do grupo militante palestiniano Jihad Islâmica, reunidos num estádio de futebol na cidade de Gaza, o presidente conservador do Irão, Ebrahim Raisi, pediu aos palestinianos que continuem a sua luta contra Israel.
A intervenção, a primeira deste género perante os palestinianos, parece encerrar anos de diplomacia silenciosa com o objetivo de corrigir uma falha entre o Hamas e Teerão, divididos sobre a devastadora guerra civil na Síria, noticiou a agência Associated Press (AP).
Raisi dirigiu-se à multidão de palestinianos por ocasião do "Dia de Jerusalém", ou Dia de Al-Quds, em homenagem ao nome árabe da cidade, que calha na última sexta-feira do mês sagrado islâmico do Ramadão.
No seu discurso, Raisi criticou duramente as recentes reuniões bilaterais da Autoridade Palestiniana com Israel em Aqaba, na Jordânia, e Sharm el-Sheikh, no Egito.
Uma onda de violência em Israel e na Cisjordânia após uma recente operação policial israelita na mesquita sagrada de Al-Aqsa em Jerusalém resultou num afastamento, depois das autoridades procurarem diminuir as crescentes tensões entre israelitas e palestinianos.
"A iniciativa de autodeterminação está hoje nas mãos dos combatentes palestinianos", realçou Raisi, criticando a Autoridade Palestiniana que governa partes da Cisjordânia não controladas por Israel.
Durante a cerimónia, o líder do Hamas em Gaza, Yehiyeh Sinwar, comemorou que militantes do sul do Líbano, Gaza e Síria tenham disparado foguetes contra território israelita, descrevendo os ataques como uma resposta à operação policial na mesquita de Al-Aqsa, o terceiro local mais sagrado do Islão.
Nas últimas quatro décadas, os desfiles do Dia de Al-Quds atraíram milhares às ruas do Médio Oriente.
O evento tem mais impacto no Irão, onde multidões queimam bandeiras israelitas e entoam promessas de libertação de Jerusalém.
Embora o Hamas seja um grupo muçulmano sunita, este tem uma ala militante que há muito nutre laços estreitos com o Irão, uma fonte de financiamento e uma potência xiita. Hamas e Irão estão unidos por uma inimizade partilhada para com Israel.
O Irão e Israel estão envolvidos numa guerra encoberta que inclui ciberataques, alegados assassínios de cientistas nucleares iranianos e sabotagem de navios, embora nenhum dos dois países reconheça as suas ações publicamente.
Embora o Irão não tenha revelado os detalhes de seu apoio, o Hamas elogiou publicamente a República Islâmica pela sua assistência.
Especialistas dizem que o apoio de Teerão é financeiro e político, como ajuda tecnológica, "know-how" de engenharia e treino para ajudar o grupo militante a desenvolver o seu próprio arsenal caseiro de foguetes avançados que possam atingir todo o território de Israel.
Um paralisante bloqueio israelita-egípcio imposto depois do Hamas ter conquistado violentamente o controlo de Gaza em 2007 tornou difícil para o Hamas contrabandear foguetes de fabrico iraniano para o enclave costeiro nos últimos anos.
O Departamento de Estado dos EUA relata que o Irão fornece cerca de 100 milhões de dólares (cerca de 91 milhões de euros) por ano para grupos armados palestinianos, incluindo o Hamas e a Jihad Islâmica Palestiniana.