
A situação dos refugiados em consequência do conflito armado no Sudão preocupa as Nações Unidas
AFP
O comandante das Forças Armadas e presidente do Conselho Soberano de Transição do Sudão, general Abdel Fattah al-Burhan, apelou à população civil para que pegue em armas para lutar contra o grupo paramilitar Forças de Apoio Rapido (RSF), assumindo uma mobilização geral.
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Os jovens não devem “duvidar nem demorar”, acentuou al-Burhan, o presidente de facto do Sudão, palco de violentos confrontos entre o Exército e as RSF desde 15 de abril, devido a dissensões entre os comandantes respetivos, ex-companheiros na tomada do poder em 2021.
No que pode representar uma escalada sem precedentes, o dirigente apelou a todos que possam defender o país para que o façam “no seu local de residência ou juntando-se às unidades militares”.
Recorde-se que os confrontos deflagraram num quadro de tensões crescentes sobre a integração das RSF nas Forças Armadas, no âmbito de um acordo, em dezembro, para a formação de um governo civil e a retoma da transição iniciada em 2019, com o derrube de Omar Hasán Bashir, interrompidas com o golpe de Estado de outubro de 2021, no qual foi deposto o primeiro-ministro de unidade, Abdalá Hamdok.
“O Mundo inteiro está a observar os crimes cometidos contra o povo sudanês, rasgando a unidade deste país, fragmentando o seu tecido social e deslocando o seu povo” com o objetivo de “satisfazer as aspirações pessoais de um grupo específico que se rebelou contra o Estado”, acentuou al-Burhan.
O general acusou os “rebeldes” de procurarem “apoio de bandos que violaram a honra e assaltaram habitações utilizando-as como bases das suas operações”, tendo saqueado bens e pertences de cidadãos e destruindo a estrutura de serviços do Estado” e praticado “crimes de guerra e contra a humanidade”.
As declarações do presidente de facto ocorrem mesmo depois de ter aderido à trégua para a celebração do rito islâmico Eid al Adha, decretada unilateralmente horas antes pelo comandante das RSF, o general Mohamed Hamdane Daglo.
A trégua foi acompanhada pelo anúncio da libertação de uma centena de presos de guerra das Forças Armadas “que foram enganados pela sua cúpula derrotada e acobardada e se viram forçados a combater numa batalha que não é a sua”, afirma o grupo em comunicado.
A nota das RSF reitera, por outro lado, o apelo aos “membros honrados das Forças Armadas” que alinhem com a eleição do povo, que aspira a restaurar o mandato democrático e civil num país que preserve a liberdade e dignidade humana”.
Agrava-se a situação no Darfur, alerta o ACNUR
Entretanto, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) alertou para a intensificação do conflito na região do Darfur, quando o número de pessoas que saíram do país em fuga dos combates ultrapassa o meio milhão e tende a aumentar, ao mesmo tempo que a capacidade de ajuda continua a ser severamente limitada pela insegurança e pela falta de acesso a financiamento.
"Mais de 560 mil pessoas em pouco mais de dois meses é um número enorme", disse o alto-comissário adjunto, Raouf Mazou, alertando que a situação no Darfur, com a intensificação do conflito, é a que mais preocupa a organização e salientando que a dimensão étnica observada no passado (2003) “infelizmente está a voltar", com ataques de milícias árabes a comunidades não muçulmanas na região.
"O fardo que os refugiados que chegam aos países (de acolhimento) representam pode, em alguns casos, assustar os governos. Por isso, devemos sempre lembrar e pedir aos países de asilo que continuem a manter as suas fronteiras abertas, mas também temos de garantir que têm os meios para prestar assistência humanitária e, por vezes, também necessidades de desenvolvimento", acrescentou.
Até agora, o ACNUR estimou que os confrontos mortais entre as RSF e as Forças sudanesas deixariam um milhão de refugiados em seis meses, mas “dadas as tendências e a situação em Darfur, é provável que ultrapassemos um milhão", disse Mazou.
Enquanto aquela agência das Nações Unidas estimou que 100 mil pessoas chegariam ao Chade, por exemplo, em seis meses, este número é agora estimado em 245 mil, disse, quando as projeções ainda não estão todas atualizadas.
